segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Tudo e Nada


Quando o tudo e o nada deixam de ser meras noções abstratas.

Recordo-me de uma dessas noites de verão, quando no Brasil não são raras as enchentes e inundações, e eis que um repórter televisivo, fazendo o seu trabalho, interpela uma senhora, moradora de uma casa extremamente humilde, que estava a lamentar os estragos causados pela chuva: “Perdi tudo!” – foi o que ela disse. Mas como pode alguém que praticamente não tem nada, lamentar que perdeu tudo? Nessas horas não dá para trabalhar com as noções de tudo, nada, muito, pouco, mais, menos... e não se trata de relativismo, mas da força das vísceras a estraçalhar nosso platonismo, a transmutar valores e transversalizar linhas de pensamento. O Haiti ainda vai permanecer na linha de frente dos grandes e pequenos noticiários, mas até quando? Talvez pelo tempo que nos for possível suportar os efeitos deste acontecimento devastador de maneira meramente abstrata. Mas e depois? O destino dos grandes fatos noticiados é o mesmo dos pequenos: o esquecimento.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Bons encontros pelas esquinas de 2010 afora.


Chegamos aqui, 2010, e avistamos um punhado de esquinas pela frente? Nada além, nada aquém. Por que gosto tanto das esquinas? É porque nelas nunca sabemos o que vamos encontrar pela frente.


O que esperar de 2010?


Sou avesso às previsões, prefiro as produções. Penso que não podemos esperar nada menos do que a vontade de ocupar estes territórios, as esquinas de 2010, em que o cruzamento com o inusitado, a possibilidade de experimentações e de encontros heterogêneos, bons encontros num sentido spinozano, podem acontecer.


Sim, mais um ano possível pela frente, eis talvez uma das razões pelas quais é comum sentir um revigoramento nas viradas de ano.


Porém, as viradas de ano costumam se dar repletas de promessas e é aqui que reside todo o perigo. Não podemos nos esquecer dos alertas nietzschianos quanto aos riscos presentes nas promessas não cumpridas que deixamos pelo caminho (lixo pelas esquinas). Podemos padecer em meio a ressentimentos e à má consciência. Isso tudo agravado por um dos maiores inimigos de nosso intercessor bigodudo, a preguiça.