Intermezzo: amor.
“O we will know, won't we?
The stars will explode in the sky
O but they don't, do they?
Stars have their moment and then they die”
(
A astronomia, sempre ela, a ciência que estuda o movimento dos astros, para quando estes se encontram na mais alta velocidade, ou até mesmo parados, em suas órbitas desmedidas de inércia pura. Os astros nos guiam, desde sempre. São estes os nossos modelos: o Sol, a Lua; Marte, Vênus; pai, mãe; e hoje, mais do que nunca, temos celebridades aos montes nos ensinando a viver, a amar. Temos acesso instantâneo às vinte-e-quatro horas do dia-a-dia de insossas celebridades quase-imediatas de um Big Brother Global, (acreditava-se antes que o Big Brother nos vigiava através da tele-tela... hoje quem duvida que somos nós que o vigiamos afoitos por movimentos quaisquer... numa total e patética inversão de papéis.). Nossos modelos estão por aí e se movem sorrateiros sem necessidade de passarela. São magros anoréxicos e, no entanto, fortes halterofilistas que levantam o pesado estandarte da padronização estética do belo corpo perfeito (o corpo pleno). Nas livrarias pipocam manuais, best-sellers, e uma multidão se arrasta e ainda suplica ansiosa: “Dêem-nos as respostas! - Somos pedintes no fim de feira, nos contentamos com os bagaços!”. As grandes tragédias shakesperianas hoje nada valem... é que não há mais tempo, ou, sobra tempo demais. Uma questão de duração! E nesse planeta que habitamos e que num só e mesmo golpe nos habita, quem se atreve a falar de amor? Falar só, basta? Explicar? Perguntas há aos montes... respostas, no entanto... há silêncio, a verdadeira trilha sonora de um filme, já dizia Michelangelo Antonioni. Este cineasta, mestre na manipulação dos tempos em cinema, e da estetização do desencontro humano na grande tela. O quanto nos inspira! O cinema funciona, e isto sabemos bem, tratar-se-ia do divã do pobre, como diria Guattari?
Como pedintes no fim de feira deliciamos-nos com os bagaços. Queremos modelos, mas estes indubitavelmente sempre falham. É preciso falar do amor como de um fracasso, que exige de nós uma experimentação às cegas. É questão de tato, de choque de corpos. A pergunta espinosana: “O que pode um corpo? De que afectos é capaz?” está longe de uma resposta. Mas em sua potência já é capaz de nos arrancar do confortável habitat a que nos acomodamos, e ansiosos estamos, a aguardar o chamado, com o bilhete de senha na mão. Não seremos chamados. É preciso tomar a iniciativa e se atirar. Antes um modo de existência a um modelo. Antes modos de amar a modelos. Sejamos criativos e sigamos sob o signo do desamparo. Não há mapas, a não ser que os construamos. E a pergunta que fica é a mesma que foge: “Como quebrar até mesmo o nosso amor para nos tornamos, enfim, capazes de amar? Como devir imperceptível?”(DELEUZE; PARNET, 1998, p. 59)**
** DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. Trad. Eloísa Araújo Ribeiro. São Paulo, Editora Escuta, 1998.
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