“Falou e disse”, eis uma expressão, de uso coloquial e freqüente, que pode ser interpretada como parte de uma comunicação bem sucedida. A fala como parte menor, mas não menos importante, de um processo de dimensões oceanográficas que é a comunicação. Oceano com mares pouco navegados, tempestades, calmarias, e muita água quase sempre impura (às vezes até inapropriada para o consumo). Mas existiria mesmo, na plenitude do termo, algo como uma comunicação bem sucedida? Entre usos e desusos, tropeços e acertos, ruídos, distorções e outras interferências, falamos. E como falamos! Aliás, falamos muito sobre “como” falamos e não sei bem se dizemos algo que possa satisfazer nossas angústias com relação à fala. “Eu falo”, índice de poder, já não bastasse a ênfase no “eu”, ainda temos o “falo”, para aqueles a quem “isso” tem algo a dizer. A fala, elemento de uma tentativa de comunicação, da criação de um possível, de um comum, que não se restringe à comunicação verbal e seu fluxo de palavras. Mas, palavras, gestos, olhares, respiração, soluços, entonações, entre um quase infinito rol de elementos. Do que falamos sem dizer, um pouco de não-dito de uma fala e um pouco do que não foi dito por também não ter sido falado. Balbuciou algo, entre goladas de saliva temperadas com hálito impuro, depois respirou e se calou. Calado nos dizia um tanto mais, de sua introspecção, essa tagarela.
terça-feira, 21 de junho de 2011
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