domingo, 2 de janeiro de 2011

a gata no aquário

em uma varanda no alto do 21º andar de um prédio, lá onde o andar de uma gata é extremamente limitado. poucos metros quadrados daqui para acolá, em um salto a gata alcança a janela. pois que estava eu n’outro dia na varanda ao lado, que tem os mesmos exatos poucos metros quadrados, sentado no chão, lendo um livro, e a gata me aparece na varanda vizinha, a ronronar e a me fazer companhia. (ainda) não sei o nome dela, nem ela o meu, ela não sabe que livro eu lia, tampouco eu sei o que ela dizia ao ronronar. passei apenas um fim de semana neste apartamento, terminei o livro e a gata ainda deve estar lá, no aquário vizinho.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Hatsune Miku: Quando o holograma sai em turnê


“Just 'cause you feel it doesn't mean it's there.” – There There - Radiohead

Hatsune Miku, uma cantora virtual que atualmente faz muito sucesso no Japão, lota casas de espetáculos, enche estádios, arrasta milhares de fãs em seus shows miraculosos. Sim, o holograma saiu em turnê, já não era sem tempo! Presença da não-presença, simulação afectiva, repleta de toda magia que nossa tecnologia audiovisual consegue projetar nos dias de hoje. Trata-se de uma projeção holográfica 3D que simula no centro do palco uma figura que se tornou bastante popular na Terra do Sol Nascente, lá onde o milenar e o high tech se transversalizam, território dos micro-artefatos tecnológicos, da invenção e propagação de gadgets, dos Tamagochis, das lojas em que as pessoas pagam para acarinhar gatos. Sua voz é o resultado da captura do canto de uma garota de 16 anos modificada a partir de sintetizadores de modo a atingir timbres sobrehumanos – ritornelos em série. Sua imagem representa uma celebridade teen, a serviço do marketing. Se eu tinha receio de Lady Gaga nos responder o que pode um corpo, o que temer de Hatsune? Assista ao vídeo e tire suas próprias conclusões: LINK

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

(...) das forças que nos escapam.


Das forças que dão forma à Vida muito pouco se extrai, o que é uma pena. É mais fácil ficar restrito ao universo das formas, dentre as quais, as ditas mais belas, costumam ser destacadas. Parece ser mais seguro e confortável ignorar o contínuo embate de forças que muitas vezes resulta nas formas, sejam estas reconhecíveis ou não. Nada de se perder entre o que as forças podem nos proporcionar antes, no meio e depois das formas

Nosso repertório de formas parece ser também muito reduzido, sendo que no mais das vezes o que importa são as formas ditas como belas, ignorando-se a possível beleza das formas taxadas de não belas. Por outro lado, vasta é a quantidade de definições a piori, é só escolher e encaixar em padrões de toda sorte, do belo e do não belo, rótulos e categorias, produção em larga escala do mesmo em forma pura.

Quase sempre surge o implacável medo das forças. Especialmente das forças que nos escapam, ou que escapam às formas, ou que delas não dependem. Experimentar um desvio absoluto de padrão, linhas de fuga, invenções? Jamais! Se for para fugir que seja encaixando no desvio padrão já esperado, previsível, prêt-à-porter, a um passo da captura insossa.

Cabe ressaltar que as formas têm duração finita, não permanecendo ad infinitum ao dispor de nossas fruições.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um suspiro... Oh Vida curta! O que não é intenso não me interessa.

Nas praias da imanência de uma Vida e suas virtualidades, com ondas que quebram na areia, eu tento aprender a surfar com Deleuze, meu professor de surf predileto, ou ao menos a pegar um jacarezinho para não levar um caldo.

A Vida à altura de seus acontecimentos, tal como nos ensinou o bigodudo do martelo, Nietzsche, certamente inspirado na concepção de destino das “fábulas” dos Estóicos: “O guerreiro dá um passo e é atingido pela flecha. Se não morre, passa a viver uma Vida outra, após a flechada e os limites que esta lhe impõe.”. Há ondas violentas mesmo, mas o que nos derruba, no mais das vezes, é o medo que temos de perder o equilíbrio.

O mais delicado e o mais sutil são de uma intensidade absurda. Há ocasiões em que um suspiro se equivale a uma onda. O mar suspira em ritmos variados. Surfar em meio a suspiros pode ser uma tarefa ofegante.

Neste instante, tal como numa onda, e eu nem sei ainda o que move o mar, tampouco o que pode um corpo, mergulho nas águas turvas e geladas da memória, mas as lembranças que chegam tem mais a ver com o futuro do que com o pretérito.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Bienvenue, para onde vamos?


N’outros tempos, outras barricadas, outros desejos, anseios de uma revolução. Por agora, greve geral na França, novamente. Essas ruas há muito estavam vazias, ou melhor, esvaziadas. Pois não basta perambular pelas ruas, é preciso ocupá-las. São as urgências de hoje, não as de ontem, com a multidão de agora e de sempre que animam esta greve que já dura semanas na França. As ”barricadas do desejo” de outrora, do famoso maio francês de 68 não são as mesmas de hoje, pois aquelas já passaram, e as dos nossos dias também estão a passar. A revolução não dura para sempre, mas pode ser eterna em muitos dos seus mais delicados gestos. Nos idos de 1980 Guattari nos alertou quanto ao terror dos “Anos de Inverno”, tempo morto Kantiano, em que nada se produz, em que não há revolta e sim aceitação, acomodação, colaboração. Para este camarada, que viveu a primavera dos anos de 1960, suas implicações e engajamentos, o paradeiro, a indiferença, a ausência de movimento são tão gelados e sofridos como uma espécie de morte em Vida. As ruas estão logo ali, com suas esquinas, e nós, para onde vamos?