A proliferação mundo afora, casa adentro, do que Spinoza chamou de Paixões Tristes, ou seja, as afecções alinhadas com o grau mais baixo de nossa potência me espantam profundamente. São tantos os exemplos presentes na vida cotidiana que eu chego a suspeitar que nós tenhamos uma queda, uma espécie de predileção, por este tipo de filiação reativa.
Quando digo mundo afora, casa adentro, intento derrubar a um só golpe as noções de dentro e fora, tal como tradicionalmente nos são apresentadas. Prefiro a noção de imanência em que muros, paredes, pele, são de extrema porosidade, nos expondo a todo o momento a conexões de toda sorte, aguçando a nossa potência de afectar e ser afectado.
Vivemos num mundo assolado pelo excesso de opiniões pré-fabricadas que se assemelham a um Big Mac, cujo saber é próximo de zero e o sabor é nauseante.
Há uma espécie de automatismo opinativo, o pensamento modulado no regime fast food, ou seja, na pressa, a primeira opinião que vem é a que fica. E o pior, fazem coro a este refrão adultos, jovens, crianças, idosos...
Não me apresso, mesmo porque sou avesso à pressa, a lançar comentários de um falso saudosismo defendendo a tese de que nossos tempos são piores do que os dos nossos antepassados. Ao invés disso, prefiro a idéia de Deleuze de que cada tempo tem suas máquinas, logo, seus problemas (na ambigüidade do termo problema, que não necessariamente remete somente ao pólo negativo).
Não adianta culparmos os aparelhos de Mass Media, especialmente em tempos como os nossos em que as mídias sociais potencializadas pelos apetrechos internéticos e de telecomunicação em rede roubam a cena. Insisto: Não adianta buscarmos culpados, isso nunca funcionou muito bem ao longo da história da humanidade, pois encontrá-los e puni-los não conserta os efeitos danosos de suas intervenções. Encontrar e punir culpados não resolve o problema, funciona tal como um remédio, uma droga, no sentido de cortar ou mascarar os sintomas e não promover um aumento na saúde.
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