“I believe I can see the future
Cause I repeat the same routine
I think I used to have a purpose
But then again
That might have been a dream
I think I used to have a voice
Now I never make a sound
I just do what I've been told
I really don't want them to come around
(…)
Every day is exactly the same
(…)
Every day is exactly the same
There is no love here and there is no pain”
Every Day Is Exactly The Same - NIN
O Rock and Roll talvez não venha a salvar o mundo, mas em meio às coisas do mundo, procuro estabelecer alianças com aquilo pode produzir sentido, que nos mobiliza, nos incentiva a pensar, a sentir, e vez por outra é justamente da música que surgem interessantes indagações. Leia o fragmento de letra acima cuja força de um lamento denuncia a despotencialização de uma repetição sem sentido.
Algo parecido aparece no fragmento de letra de música abaixo.
Algo parecido aparece no fragmento de letra de música abaixo.
“Always stays the same, nothing ever changes
English summer rain seems to last for ages
(…)
Hold your breath and count to ten
(…)
Hold your breath and count to ten
And fall apart and start again,
start again, start again…”
English Summer Rain – Placebo
Agora, cabe mencionar que há um quê de Rock and Roll em certos fragmentos extraídos de filósofos, especialmente os que flertam com o desassossego da produção de diferença.
E se na hora sem sombras um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?
Aforismo 341 – A Gaia Ciência – Nietzsche
Aforismo 341 – A Gaia Ciência – Nietzsche
O Rock and Roll pode, desde a sua invenção, produzir desassossegos, num sentido Nietzschiano, tal como Wagner à época desse filósofo bigogudo, Nietzsche, que manejava um martelo, tal como se fosse uma guitarra, a quebrar os conceitões absolutos do conhecimento e da cultura hegemônica de sua época. Certos petardos filosóficos são tão potentes quanto os riffs ou solos de uma guitarra: toda uma Pop’Filosofia.
A música e seus perceptos, blocos de sensações, a matéria prima para a evocação de ritornelos... lembro-me de várias cenas do filme Dançando no Escuro, dirigido pelo polêmico cineasta dinamarquês Lars Von Trier, em que Björk, em atuação esplendorosa, cantarola enquanto repete movimentos braçais em uma linha de produção de uma fábrica de panelas. Enquanto cantarola, a personagem experienciada pela cantora-atriz islandesa se projeta, em meio a delírios ou sonhos (escolha o que lhe convier), tal como se estivesse participando de um musical. Daí a traçar uma linha de fuga em que ela sai de cena, sai do corpo da fábrica, da boca da máquina que tritura metais em repetição, ainda na fábrica, sai permanecendo lá, e sem imitar um tipo-dançarino de musical, ao mesmo tempo em que se conectando às forças de uma dança rebelde, a personagem quase cega enxerga um possível naquele mundo de repetição infindável: da produção de diferença, ou a delicada arte de empurrar os impossíveis na invenção de saídas, criando rupturas a trincar o cotidiano quando este nos sufoca e por suas brechas fazer escoar um som, um gemido que seja, em tom celestial.
A música e seus perceptos, blocos de sensações, a matéria prima para a evocação de ritornelos... lembro-me de várias cenas do filme Dançando no Escuro, dirigido pelo polêmico cineasta dinamarquês Lars Von Trier, em que Björk, em atuação esplendorosa, cantarola enquanto repete movimentos braçais em uma linha de produção de uma fábrica de panelas. Enquanto cantarola, a personagem experienciada pela cantora-atriz islandesa se projeta, em meio a delírios ou sonhos (escolha o que lhe convier), tal como se estivesse participando de um musical. Daí a traçar uma linha de fuga em que ela sai de cena, sai do corpo da fábrica, da boca da máquina que tritura metais em repetição, ainda na fábrica, sai permanecendo lá, e sem imitar um tipo-dançarino de musical, ao mesmo tempo em que se conectando às forças de uma dança rebelde, a personagem quase cega enxerga um possível naquele mundo de repetição infindável: da produção de diferença, ou a delicada arte de empurrar os impossíveis na invenção de saídas, criando rupturas a trincar o cotidiano quando este nos sufoca e por suas brechas fazer escoar um som, um gemido que seja, em tom celestial.
Sugiro aos leitores que busquem as músicas cujos fragmentos aqui copio, assim como este aforismo nietzschiano acima. O agenciamento entre música e filosofia, perceptos e conceitos, pode devir assaz intenso.
Um comentário:
rock n'roll e o desassossego... ouça o lado B do single, Month of May.
http://www.arcadefire.com/vinyl/
(O botão de play está ao lado do título das músicas... muita gente fica horas girando o vinil manualmente...rs!)
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