terça-feira, 28 de setembro de 2010

As dobras do dentro e do fora de um dedo (mínimo).


Um pino, ou melhor, parafuso. Este corpo estranho atravessado, agora entranhado em meu dedo. Será assim daqui por diante. As dobras do dentro e do fora de um dedo (mínimo).

O exercício consiste em esquentar uma porção d’água, o suficiente para encher uma bacia. Esquentar até a água ficar morna e em seguida nela mergulhar a mão. Com a mão submersa n’água, tentar “suavemente” mexer o dedo mindinho, ou mínimo, da mão esquerda, “la mano sinistra”. Não há nada de suave nisso. A repetição, por vinte minutos todas as manhãs e mais vinte minutos todas as noites, dolorosa repetição. Duas vezes por dia, por pelo menos quinze dias. Preciso aprender a mexer, a dobrar o dedo, aprender de novo. Não há nada de suave nisso, em aprender, especialmente quando se trata de aprender de novo. Aprender de novo, que absolutamente nada tem a ver com reaprender. Tenho que aprender de novo, em busca de um movimento que já não consigo mais. Dou ordens a um dedo que não mais me obedece. Não esqueci como dar ordens, ainda mais a um dedo mínimo, mas ele já não me obedece mais. Dobrar o dedo. Isso me lembra os movimentos do balé, “plié”, “demi plié”, as dobras da bailarina. O dedo desobediente não quer mais se dobrar, criou após intervenção cirúrgica, uma linha catatônica, e assim cicatrizou. Preciso inventar agora uma outra linha, linha de dança, de manuseio, de tato, de dobra, inventar novos de passos de dança para a dobra de um dedo.

3 comentários:

lixoinprocess disse...

-desdobramentos da impossibilidade do dobrar,espasmos de dobras talvez- Qual o mínimo múltiplo comum do mindinho?????

Wellington Machado disse...

Ótimo texto! Perder o domínio de um membro do corpo e ter de reeducá-lo deve ser uma experiência no mínimo esquisita. Mas há de se ter paciência e persistência, como requer todo (re)aprendizado.

Manuel Carreiro disse...

Tive que reaprender a movimentar a perna esquerda.

Por isso larguei o futebol, Rogério.

Os deuses da bola disseram:

"Obrigado por parar!"