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domingo, 20 de novembro de 2011

(...) noite dessas, numa sala de aula.

(...) quando chegamos, havia balões. Não eram nossos. Parecia ter havido uma festa antes da nossa começar. Uma aula não precisa conservar a sisudez de certos encontros supostamente certos. Preferimos os ares da(s) incerteza(s), em particular quando há brechas para que acontecimentos inusitados venham a nos saudar. Foi assim naquela noite em que nossas conversações foram animadas por alguns conceitos cunhados por Deleuze, Guattari (entre outros camaradas). E estes conceitos só ganharam ares de festa a partir de nossos esforços (e como isso dá trabalho) em produzir os nossos próprios conceitos a partir destes. Uma festa, um potlatch, um happening, um concerto de rock, é isso também o que pode uma aula.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Nunca vi um albatroz de perto, nem mesmo de longe.


Nunca vi um albatroz de perto, nem mesmo de longe. No máximo vi imagens de albatrozes em algum documentário televisivo, pela internet afora ou em revistas. Logo, eu não seria capaz de escrever sobre albatrozes, não sou um expert no assunto. Posso no máximo escrever com(o) um albatroz quando voa, traçando uma espécie de “line of flight”, conforme Deleuze e Guattari, deixando-me guiar pelo animal de vôo alto e extrema dificuldade em aterrissar. Uma escrita alba-atroz, que decola com dificuldade, deslocando-se no ar com velocidades lentas e rápidas, às vezes mais rápidas do que o vento no qual desliza e se desloca, até a aterrissagem sem jeito, ou um outro nome para a queda.

Encanta-me em especial o Albatroz-errante. Ave dentre as que apresentam maior envergadura e grande poder de vôo. Possuem uma habilidade particular ao voar, a de conseguirem deslizar muito perto da água, sem tocar as ondas, numa espécie de surf voador sem prancha, mas com as sensações que as ondas transmitem ao corpo vibrátil da ave. Ave que voa tal como um planador, embora não seja apenas empurrada pelas correntes de ar, e assim atravessam grandes distâncias. Os albatrozes chegam a atingir velocidades bem mais rápidas do que o vento e possuem bastante autonomia de vôo.

Planar no caso dos albatrozes é encontrar uma saída para voar, pois se eles tentam bater as asas, acabam encontrando muita resistência do ar devido à grande envergadura e com isso perdem forças e facilmente se cansam, aumentando os riscos de uma queda fatal.

A decolagem de um albatroz constitui um espetáculo curioso, pois tal como um avião, eles precisam de uma ampla área de fuga, que funciona como uma pista de decolagem, de preferência localizada em um terreno inclinado e com maior incidência de ventos, para aumentar as velocidades. Eles ficam posicionados no topo de um declínio e de lá começam a correr, esticando bem as asas, lançando as patas, uma após a outra, em um ritmo que você pode dizer de antemão que se caracterizaria pela mais completa falta de ritmo. Como pode isso? Esse movimento charmoso, combinado com algumas batidas das asas, geralmente faz com que eles voem. Geralmente, pois alguns albatrozes chegam a planar a poucos centímetros do chão e a cair algumas vezes antes de estabelecerem um pleno vôo.

Para pousarem na água os albatrozes usam principalmente suas patas, que possuem membranas "entre os dedos", funcionando como pás a escavar a água. Eles tocam com suas patas na água amenizando os atritos de uma reterritorialização. Quando a aterrissagem se dá em terra, eles usam suas caudas e patas como freios, tal como os instrumentos de pouso de um avião. Cada volta a um território exige um funcionamento do corpo e de sua maquinaria em reterritorialização. Não são raras as vezes nas quais os albatrozes se aproximam do local de pouso rápido demais, apressadamente, um erro de cálculo que faz com que eles se tombem de modo assaz desajeitado, batendo com o peito, o bico e as demais partes do corpo no chão, levantando poeira, um tremendo desastre! Daí a pensarmos que o albatroz não sabe aterrissar num mundo de atrocidades, mas ele atinge o chão mesmo assim.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

As dobras do dentro e do fora de um dedo (mínimo).


Um pino, ou melhor, parafuso. Este corpo estranho atravessado, agora entranhado em meu dedo. Será assim daqui por diante. As dobras do dentro e do fora de um dedo (mínimo).

O exercício consiste em esquentar uma porção d’água, o suficiente para encher uma bacia. Esquentar até a água ficar morna e em seguida nela mergulhar a mão. Com a mão submersa n’água, tentar “suavemente” mexer o dedo mindinho, ou mínimo, da mão esquerda, “la mano sinistra”. Não há nada de suave nisso. A repetição, por vinte minutos todas as manhãs e mais vinte minutos todas as noites, dolorosa repetição. Duas vezes por dia, por pelo menos quinze dias. Preciso aprender a mexer, a dobrar o dedo, aprender de novo. Não há nada de suave nisso, em aprender, especialmente quando se trata de aprender de novo. Aprender de novo, que absolutamente nada tem a ver com reaprender. Tenho que aprender de novo, em busca de um movimento que já não consigo mais. Dou ordens a um dedo que não mais me obedece. Não esqueci como dar ordens, ainda mais a um dedo mínimo, mas ele já não me obedece mais. Dobrar o dedo. Isso me lembra os movimentos do balé, “plié”, “demi plié”, as dobras da bailarina. O dedo desobediente não quer mais se dobrar, criou após intervenção cirúrgica, uma linha catatônica, e assim cicatrizou. Preciso inventar agora uma outra linha, linha de dança, de manuseio, de tato, de dobra, inventar novos de passos de dança para a dobra de um dedo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

in_visível*


Invisível, tanto faz... se desfaz, ou melhor, faz e desfaz e se perde. Foge e aparece em outro lugar. Desaparece, movimenta e pára. Você acha que viu e como num piscar de olhos, você já perdeu de novo. Tentou agarrar e escapou por entre os dedos. Você sente, mas não tem o menor sentido. “Just 'cause you feel it doesn’t mean it’s there. We are accidents waiting to happen.”** O imperceptível, característica comum da mais alta velocidade e da maior lentidão. Encontro de corpos que se chocam, cujas linhas, em fluxos, se cruzam transversalmente. Perder o rosto. Quais as linhas que compõem um rosto? Perca o rosto! Em um rosto tantos segredos. “Tudo o que se torna é pura linha que cessa de representar o que quer que seja.” (DELEUZE; PARNET, 1998, p. 145)***. Dar sentido(s), e mesmo assim, é quando o sorriso não tem gato, de Carroll, que o homem pode tornar-se gato, no momento em que sorri.

-Qual o invisível que me atravessa?

Atravessa e não atravessa... circunda, faz um contorno flexível criando forma e de repente se deforma. Entra pelos poros da pele e sai. Atinge outros órgãos fazendo-os funcionar de forma diferente. Ou parar de funcionar completamente.

Uma nuvem multiforme... parece carneirinho, parece floco de algodão, mas é de outra natureza. Aliás, ali se tem um encontro de naturezas bem diversas. Em estados que se modificam, em temperaturas que oscilam e velocidades que se alternam. Choveu e o gás tornou-se um líquido que evaporou. Não é só água, é mistura. Impuro, incerto. Cai e molha, e escorre, e seca. As crianças fazem festa, os fazendeiros comemoram, e de repente o excesso e a enchente. É bom e é ruim, ou nenhum dos dois. É belo, e depois... “O que é, o que é? É invisível e me atravessa...” Me atravessa e vem de fora, e está dentro. É tanto meu quanto seu. Por outro lado, não nos pertence... nos compõe e decompõe. Uma explosão de afectos, mas não só isso, ou melhor, não é só disso que é feito. Qual o efeito? E para que serve?

O invisível que me atravessa, eu não vi. Você riu? Pois é... digno de embaraço esse traço de estilo, componente de subjetivação. Pergunte ao fulano, do que se trata. Uma resposta. (Parece ser mais fácil para um outro enxergar e dizer. Pois com meus próprios olhos, me ver, é impossível.) Pergunte ao cicrano. Outra resposta. Sou capaz de uma aposta: Se é invisível, ninguém sabe, ninguém viu. Parece cena de periferia: “Tá lá um corpo estendido no chão!”. E de que afectos ele é capaz? Pois mesmo morto ele promove afectos. Estou certo?!

O invisível tem cheiro? Tem sabor? A saber, em um encontro qualquer, em um lugar sem endereço, uma aliança. Unem-se corpos que depois se separam clandestinamente. Homem? Mulher? Tanto faz. Um bando. Ah! Assim diz o clichê: “A revolução não será televisionada”. Será? E para onde eles foram? E o que restou? Acontecimento fugaz e duradouro tal qual a eternidade. É como uma noite estrelada, você enxerga o astro que não está lá. A imagem permanece, mas ela não é. Mas suas linhas de brilho lá estão. Aqui e acolá, a nos iluminar. Você segue o rastro da luz com a qual estabelece intercessão. Alguém diz: “Hum! Gosto de você” – E continuo sem saber que gosto tem. Se é salgado, se é doce...

O invisível tem som? É palpável? Talvez seja tão sutil quanto um grito e assaz perturbador, como um sussurro. Um toque por debaixo da saia da menina, um chute na canela por debaixo da mesa. O invisível caminha sobre a pele como uma formiga. Uma não, várias... em linha. Fazendo cócegas.

- Eis um rosto: bravo, manso, alegre, triste... povoado de invisíveis.

Seguir as pegadas de um bando que atravessa o deserto. A brisa vem e apaga os registros, as marcas de pé, pata e pau que riscaram a areia escaldante. O calor é intenso e o ritmo das passadas preciso, pois um oásis com água e alimento e descanso é a próxima parada. Mas onde está esse paraíso necessário à preservação da vida? Não se sabe... se chega. Todo o cuidado é pouco, pois há miragens por todos os lados e a imensidão clara é de cegar os olhos.

*Texto escrito e anteriormente postado 19/09/2005 por rfelipe em (Old)deluxxxnomadology.
**Extraído da música “There, There” do álbum “Hail to the thief” – Radiohead – 2004.
***DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. Trad. Eloísa Araújo Ribeiro. São Paulo, Editora Escuta, 1998.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A pele




Paul Valéry escreveu certa vez “O mais profundo é a pele” e tomada pelas forças desta inspiradora afirmação, a artista plástica mineira Flávia Virgínia nos convidou a uma experimentação através da qual o que está em jogo é aquela pergunta espinosista “o que pode um corpo?”.


A pele de tinta sobre a segunda pele, de tecido, que sob a forma de indumentária cobre a pele do corpo da modelo e seus poros em uma fotografia capturada em meio ao inacabado processo de devir-pintura. Tinta sobre a pele, escorrendo tal como suor a imanentizá-la na tela, na fotografia, na modelo, na indumentária... tinta porosa, tal como a pele, às vezes áspera, às vezes imperfeita, noutras vezes macia... dá uma vontade de tocar, de sentir.


Num instante, lá está, uma metamorfose que nos falseia os sentidos, aliás, a pele é o palco para o falso, pois é ela, ou melhor, através dela, que tombam melhor as noções de dentro e fora: O que está dentro de um corpo (físico, biológico) e o que está fora? A pele transborda os sentidos quando cobre o “ao redor do corpo” e a gente descobre que noções como dentro e fora mais atrapalham do que ajudam.


Textura orgânica, porosa, maior órgão do corpo humano, fronteira derradeira a definir o dentro e fora mais radical do humano, que é o falso. Pele a definir a distância absoluta da qual nos fala Blanchot: a definir, limitar e transbordar. Território de contatos e de fuga, de contágios e travessias, a pele e suas esquinas, seu calor, frieza e odores.


A pele é um tipo de revestimento paradoxal, pois consegue ser ao mesmo tempo superfície e profundidade, que na união dos poros constitui uma rede, entre-poros e suas diversas entradas e saídas que dão acesso a um sem número de coisas que entram e que saem, que atravessam o corpo naquilo que pode um corpo.

Este trabalho é parte do Encontros e Mestiçagens Culturais, exposto no Centro de Artes e Convenções da UFOP em Ouro Preto, Minas Gerais e estará disponível à visitação de 8 a 25 de julho de 2010.

sábado, 17 de abril de 2010

velocidade na escrita sempre movente

Flows, we're nothing but flows. Flows, Flowers, flyes. devir_orquídea_vespa, numa mais valia de código.

Ganhos de velocidade na escrita sempre movente.

São hoje os dedos que não acompanham a velocidade de um pensamento, ou o contrário?


Avançar. Fast-Forward! Fast-Forward! Fast-Forward! Um corpo pode o que pode um corpo. Ou, um corpo já nem bem pode o que pode um corpo. O que pode um corpo? (aquela pergunta cujo retorno faz persistir...repete, insiste, repete) relações de velocidades e lentidões, cujos fluxos configuram, no instante mesmo em que se desmantelam, partículas rítmicas de existência, sempre transitórias, quase sempre arbitrárias.

A velocidade da luz, ambição de outrora, hoje luz da velocidade, mas só há encontro quando uma distância, mesmo que mínima, é instaurada em uma duração. (Distância=Velocidade X Tempo).


A velocidade da luz faz sombra?


Toda uma arquitetura das transparências arredias, hoje aglomerações de sujeitados em espaços de passagem, de deslocamento, que não foram projetados para atrasos de vôo(s). De um projeto ao projétil, uma bala perdida, e o passo que tinha de ser dado, uma vez que se hesita... passo nenhum há. Não há passo dado, não há dado. Não há a priori, mas um tempo presente, ou melhor, há o que há em tempo presente. Um presente dissecado, limado, raspado e isento de futuro, e também de passado, tal como os estóicos o concebem. Transmissões em tempo real? Trans_Missões, nos espaços entre_trans, e entre espaços, lisos e estriados. Apenas expressões de incorporais no plano imanente chamado Intenet.

Capturaram o soco de uma polegada do Bruce Lee, e medindo-o em um laboratório chegaram à conclusão que este golpe alcança a velocidade de 12m/s, o suficiente para atravessar uma quadra de basquete em 1 segundo. Não era um soco tão forte, se comparado ao dos pugilistas peso-pesado, mas o suficiente para machucar, distrair e desequilibrar um oponente de peso, tal qual Chuck Norris.


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Exposição: Diverso Adverso

... daquilo que se pode esperar da arte em nossos tempos.
Honestamente não se pode esperar muito, como sempre, mesmo porque não é função da arte nos iludir com esperas, tampouco nos inflar com esperanças. Aliás, discutir a função da arte, ou mesmo suas funções não costuma nos levar muito adiante. Novamente sugiro neste caso que pensemos como a arte funciona e o que convoca a funcionar, e isso só faz sentido quando nos dispomos ao encontro com a arte em pleno funcionamento. Este encontro nos exige a disponibilidade de um corpo, naquilo que pode um corpo, corpo-vibrátil, como nos sugere Suely Rolnik, corpo com suas sensibilidades ativadas num modo pensar-sentir. Pois nos é necessário pensar e sentir com a arte e o que ela dispara, atravessa, replica, raspa, compõe, agencia, destrói, devora, regurgita, produz... tantas ações, um rol de possibilidades em meio a um "Blocos de sensações, um conjunto de perceptos e afectos", tal como no livro "O que é a Filosofia?" Deleuze e Guattari nos convidam a pensar e sentir a arte e suas facetas.





Convido-lhes a visitar esta exposição e no encontro com a arte desfrutarem das sensações nos limites do que pode um corpo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Trabalhando com os petardos de Spinoza

Raspas da preparação de uma aula que está para acontecer nas próximas noites, em que pretendemos trabalhar com conceitos de Spinoza, eis um pseudo-diagrama com alguns dos petardos desse polidor de lentes. Oh, puxa! Trabalhar com Spinoza, aquele mesmo que povoou a solidão a dois de Nietzsche. Aquele mesmo a quem Deleuze chamava o "Príncipe dos Filósofos". Não é fácil trabalhar com Spinoza, assim como também encaramos dificuldades com Nietzsche, com o próprio Deleuze. Mas, ao mesmo tempo, como estes e mais alguns outros camaradas, especialmente quando os encontramos em bando, conseguem nos fornecer incríveis substratos de inspiração para darmos conta das forças em tensão do cotidiano, no exercício da razão, definida por Spinoza como a arte de estabelecer bons encontros.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

acontecer


a um só golpe, o que acontece? O que não acontece? O que está para acontecer? Eis onde devemos mirar a nossa lupa, se for este o nosso instrumento, nossa luneta, se for esse outro, o pincel, a caneta, a faca... ou sabe-se lá que ferramenta ainda por ser inventada? Que conceitos ainda por serem produzidos. O que está em jogo não são os objetos e suas funções (mesmo as mágicas) mas sim como tudo funciona. Como funciona? Eis a pergunta crucial, a que não se cala. Sobre as funções e os órgãos Antonin Artaud já nos mostrou quais seus desusos no corpo. O Corpo sem órgãos, que noção mais intrigante. um corpo desprovido de um mapeamento apriorístico tal como um mero amontoado de funções... mas a potência de uma multiplicidade de funcionamentos com o corpo. E um corpo funciona, pode apostar, mesmo que avariado, embora ainda não saibamos bem o que pode um corpo.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

cuerpo

¿Quién sabe lo que puede un cuerpo?


sábado, 11 de abril de 2009

corpo.

Quando o corpo entra na jogada. (como se já não estivesse lá o tempo todo)...



sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

No início...























... os passos eram dados com precisão. Depois de alguns goles... voou. Aterrisou deixando uma marca na areia. Marca de corpo caído, corpo deitado. Levantou-se e iniciou a caminhada. De vez em quando olhava para trás, e as marcas de pegadas na areia iam sumindo com o tempo, digo, com o vento.



Image: Finn Campbell-Notman

domingo, 26 de outubro de 2008

com giratória.








(...)darei um
giro_dervish por aí e já volto.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

perce_vejo


Percevejo, nem sempre percebo o que vejo. Ver é um atributo fisiológico, mas já enxergar... o mesmo podemos dizer da sutil diferença entre ouvir e escutar. Para ouvir, basta um aparato auditivo funcionando razoavelmente, mas uma escuta não se produz da mesma maneira. É necessária a conexão de sensibilidades um tanto singulares que possuem estreita relação com as afecções e com os afectos. - Um corpo avariado consegue arrastar potências para lá, aqui e acolá. - Daí me lembro um exemplo citado por Deleuze em uma aula sobre Spinoza, o polidor de lentes - "príncipe dos filósofos", envolvendo "um cavalo que puxa carga", "um boi" e "um cavalo de corrida." O campo de afecção de "um cavalo que puxa carga" guarda mais relações de semelhança/vizinhança com o de "um boi" do que com o de "um cavalo de corrida".

Mas como isso é possível?

Cavalos são bichos da mesma "espécie", de uma mesma filiação. É que o campo de afecção corresponde a um (quase-sem)limite para a(s) nossa(s) potência(s) de ação e pela postura frente à Vida, "um cavalo que puxa carga" e "um boi" guardam similaridades descomunais."um cavalo de corrida"...


terça-feira, 30 de setembro de 2008

sutilezas
























"Sabe, para mim a vida é um punhado de lantejoulas e purpurina que o vento sopra. Daqui a pouco tudo vai ser passado mesmo - deixa o vento soprar, let it be,

fique pelo menos com o gostinho de ter brilhado um pouco... " (Caio F. Abreu)


***

... o mundo ainda necessita e muito da estranha força das sutilezas. Não devemos subestimar nada que seja sutil, apesar de sermos obrigados a admitir que é exatamente isso o que mais fazemos, quase que o tempo todo, a golpes duros: subestimar/desvalorizar/menosprezar (...), em suma, sufocar as sutilezas.

***

Desde que perdemos o corpo, e isso geralmente ocorre no instante mesmo em que deixamos de ser crianças, ou melhor, no momento em que deixamos de estabelecer conexões com a(s) criança(s) que nos habita(m), e que ainda assim, não nos abandonará(ão) jamais. Quando nos infantilizam, ou nos infantilizamos (eis uma perversa potência colaboracionista a irromper a cena), pois uma criança não é jamais infantil, nunca foi nem o será, ao menos naturalmente. Há aqueles entre nós que não conseguem separar o infantil da criança. Parece até que passam cola, um no outro (e em si próprios), criança infantil. Perdemos o corpo, fomos "desapossados" dele, do corpo, que passa a ser "mercadoria infantilizada". E você chora, esperneia e faz pirraça perante a estranha constatação da ausência do corpo. A ausência do corpo não evoca em nós as forças de um incorporal ( tal como o estóicos definiram este conceito), pelo contrário, o não-corpo ou sem-corpo é ao mesmo tempo sem-alma.


***
De todo modo não nos será possível recuperar um corpo, nos é necessário inventar um corpo outro. Algo radicalmente diferente de re-inventar. (Abaixo os prefixos desnecessários que induzem ao engodo! - alguns hão de gritar - sempre uma meia dúzia de cinco ou seis despudorados). E inventar um corpo é a um só golpe inventar a alma e sua quase incompreensível e sutil relação com o corpo, há muito quase-sempre esquecida.