terça-feira, 23 de setembro de 2008

::raspas de uma certa dissertação::

O Road Movie é um gênero cinematográfico cuja trama se desenrola através de uma viagem, geralmente por auto-estrada, na qual os protagonistas se envolvem em encontros os mais diversos, num movimento contínuo em meio a diferentes paisagens. Apresentamos a hipótese de que esses filmes se dividem em quatro tipos, a saber: No primeiro tipo, por mais voltas que dê, o protagonista nada encontra, nem consegue retornar à sua casa. As sensações produzidas neste tipo de enredo são as de um tempo vazio ao modo kantiano, gerado por maus encontros, tanto que o protagonista geralmente decide morrer, ou permite ser morto. Num segundo tipo, o protagonista acaba por encontrar um novo lar no final de sua jornada. Há ainda um terceiro tipo de Road Movie no qual a viagem aparenta não ter final, e a história permanece em aberto. Finalmente, existe também um quarto tipo, em que o protagonista, tendo sido bem sucedido no fim de sua viagem, regressa à sua casa, enriquecido por suas experiências. Em entrevista concedida a Walter Salles (2007), o consagrado diretor de cinema alemão Win Wenders (1945 -), famoso por filmes de diversos gêneros, incluindo premiados documentários e Road Movies, sugere que a origem desta última modalidade fílmica se encontra nas nossas raízes nômades pré-históricas, na necessidade que o homem sempre teve de deixar um testemunho da sua passagem pela terra. Salles (2007) aponta que, sob esta ótica, as pinturas rupestres de Lascaux e Altamira podem ser consideradas os primeiros relatos sobre a vida em movimento, as primeiras narrativas sobre a estrada. As pinturas rupestres, que resistem bravamente até os dias de hoje, enfrentando a degradação de milênios, são possivelmente o registro das primeiras tentativas de expressão do homem pré-histórico. As linhas rupestres de nossos antepassados atravessaram as distâncias de tempo, unindo no presente o homem primitivo e o contemporâneo. Embora não sejam consideradas como parte integrante do rol das técnicas ou tecnologias de ensino, não seriam as paredes de uma caverna, riscadas com desenhos rupestres, algo que se assemelha, guardando as devidas proporções, aos traçados de um professor no quadro negro ou na lousa branca de uma sala de aula?

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