segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A criança e a cadeira

Como um não-filósofo, acredito que minhas colocações tenham o mesmo peso tal como se por uma criança fossem aqui apresentadas. Não confunda a criança com o infantil que costuma ser jogado sobre ela, soterrando-a, de modo a fazer com que caricaturalmente ela se pareça sempre com um ente inferior ao adulto. E não sou daqueles que dizem que há uma criança dentro de mim, pois isso não há. O que há dentro e envolto por uma pele porosa e altamente atravessável, se for realmente necessário estabelecer dentros e foras, são vísceras, líquidos e outras mazelas, mas não se tem notícia de nenhuma criança. Por outro lado, ao ler o seu texto agencio minhas idéias às de uma criança, pois as crianças não se interessam muito sobre a função das coisas. Elas não param mediante uma explicação do tipo: “isso serve para aquilo, eis sua função e logo, sua utilidade”, às crianças interessa mais e efetivamente como as coisas funcionam, quando funcionam, mesmo que avariadas, mesmo se inúteis. “Como funciona?” é uma pergunta diferente e muito mais efetiva do que “Qual a função?”. Mesmo porque muitas das funções de tudo e de todos passam longe de como tudo e todos funcionam de fato, ou quais as utilidades prescritas. Uma cadeira: responda a uma criança o que é e qual a função de uma cadeira, e ela logo usará o próprio corpo para extrair deste objeto modos de colocá-lo para funcionar considerados pouco ortodoxos. Nas escolas e outros espaços de formação se ensina bastante acerca das funções de tudo e de todos, mas raramente se trabalha as sensibilidades em nós para apreendermos como tudo e todos funcionam. Nosso ensino é no geral excessivamente teórico-abstrato, mezzo-platonizado, e, tal como Deleuze e Guattari nos fazem pensar através do livro “O que é a Filosofia?”, pelo fato dos professores serem no mais das vezes os porta-vozes da ciência, e à ciência compete definir e classificar funções, se ensina as funções de tudo e de todos. Mas e quando não funciona ou funciona de modo diferente? O que fazer? Mudar a função?
Oh-ouh! Quando os órgãos prestam um desserviço ao corpo, há meios de se escapar do juízo de Deus e seus organismos e criar para si um Corpo sem Órgãos, tal como nos sugere Artaud?
Mais um texto meu em resposta ao post de Jason Manuel Carreiro no blog Não Há Pensamento Raro

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