quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

tal como dervishes...

Nossas baianas do carnaval carioca e seus "giros surfistas". Lembranças dos meus queridos dervishes rodopiantes e seus "giros sufistas".

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Se não agora, quando?

Há um belo livro de Primo Levi que leva esse nome: “Se não agora, quando?”, em que Levi nos leva em meio a uma narrativa que tem tanto de romanesca quanto de documental. Mais uma vez podemos ler com Levi a marca de uma Vida, em sua existência: da Vida daqueles a quem só é dada uma chance: resistir. "Diga-me, tenente: somos seus hóspedes ou seus prisioneiros?". Resistência que em Deleuze e em Foucault ganham possibilidades de sentidos variados, em ambos casos, belos, potentes, e na prosa de Primo Levi, neste livro em particular, nos é possível dar mais um bom tanto de sentidos ao verbete resistir. Da resistência como criação de possíveis, de mundos possíveis, de modos de existência que nos permitem escapar à sujeição dos aparatos de poder.

A resistência é urgente, se não agora, quando?, exige modulações sempre variáveis de velocidade, que vão do mais veloz ao menos veloz, flertando com o catatônico, tal como Deleuze e Guattari nos apresentam em o AntiÉdipo. O mais veloz é o contrário do mais apressado. A pressa sempre atrapalha as urgências.

Resistir é buscar saídas, como em Kafka, autor tão severamente criticado por alguns como criador de mundos em que a claustrofobia faz sucumbir a liberdade, mas que Deleuze resgata ao demonstrar que para este autor tcheco pouco importa uma discussão majoritária acerca da Liberdade em tons graúdos e sua suposta essência... vale mais procurar saídas, mesmo as menores, e quando estas não houver, inventá-las. Inventar saídas, algo como resistir.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Tudo e Nada


Quando o tudo e o nada deixam de ser meras noções abstratas.

Recordo-me de uma dessas noites de verão, quando no Brasil não são raras as enchentes e inundações, e eis que um repórter televisivo, fazendo o seu trabalho, interpela uma senhora, moradora de uma casa extremamente humilde, que estava a lamentar os estragos causados pela chuva: “Perdi tudo!” – foi o que ela disse. Mas como pode alguém que praticamente não tem nada, lamentar que perdeu tudo? Nessas horas não dá para trabalhar com as noções de tudo, nada, muito, pouco, mais, menos... e não se trata de relativismo, mas da força das vísceras a estraçalhar nosso platonismo, a transmutar valores e transversalizar linhas de pensamento. O Haiti ainda vai permanecer na linha de frente dos grandes e pequenos noticiários, mas até quando? Talvez pelo tempo que nos for possível suportar os efeitos deste acontecimento devastador de maneira meramente abstrata. Mas e depois? O destino dos grandes fatos noticiados é o mesmo dos pequenos: o esquecimento.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Bons encontros pelas esquinas de 2010 afora.


Chegamos aqui, 2010, e avistamos um punhado de esquinas pela frente? Nada além, nada aquém. Por que gosto tanto das esquinas? É porque nelas nunca sabemos o que vamos encontrar pela frente.


O que esperar de 2010?


Sou avesso às previsões, prefiro as produções. Penso que não podemos esperar nada menos do que a vontade de ocupar estes territórios, as esquinas de 2010, em que o cruzamento com o inusitado, a possibilidade de experimentações e de encontros heterogêneos, bons encontros num sentido spinozano, podem acontecer.


Sim, mais um ano possível pela frente, eis talvez uma das razões pelas quais é comum sentir um revigoramento nas viradas de ano.


Porém, as viradas de ano costumam se dar repletas de promessas e é aqui que reside todo o perigo. Não podemos nos esquecer dos alertas nietzschianos quanto aos riscos presentes nas promessas não cumpridas que deixamos pelo caminho (lixo pelas esquinas). Podemos padecer em meio a ressentimentos e à má consciência. Isso tudo agravado por um dos maiores inimigos de nosso intercessor bigodudo, a preguiça.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Um encontro com Matisse e as forças que este atiça


Não fosse Matisse, “o rei das feras”, “o pintor de paredes”, quem haveria de trazer as linhas de força para a pintura?


Eu sei, bem sei, e você também sabe muito bem, e os acadêmicos e eruditos de plantão sabem melhor ainda do que todos nós juntos, que Matisse não foi o único e nem o será: a trazer as linhas de força para a pintura... e a extrair dessas (das linhas de força e da pintura) as mais diversas sensações. Mas, o que está em jogo aqui não é o saber, e sim o sentir. Não um apelo exagerado ao racional, mas ao calor arrebatador que advém das vísceras, atravessando o corpo, quando nos colocamos em contato com as cores de Matisse e seus blocos de sensações: conjunto de perceptos e de afectos.


- O que você sente num encontro com Matisse e as forças que este atiça?


Aliás, não atice Matisse, a não ser que você queira acabar atiçado. Um corpo pode ser bem definido pela sua potência de atiçar e de ser atiçado, ou melhor, seguindo Spinoza, pela sua potência de afectar e de ser afectado.


Falo de forças aqui no sentido nietzschiano (e não do “falo das forças”). E Matisse, leitor de Nietzsche, soube “encontrar forças”, “produzir forças”, “trabalhar com as forças”, rompendo as sutis fronteiras entre cores e linhas. Colocando as cores e as linhas em um puro agenciamento, de tal sorte que o início de uma se dava no fim da outra e vice-versa, no entrelaçar de distâncias mínimas, entre linhas e cores e entre estas suas forças. Dando ênfase às forças em detrimento às formas, pois para Matisse as formas vinham depois, seriam secundárias, ele nos envolve na dança, em noites árabes, no interior vermelho, na nudez azul... por meio de pinturas, serigrafias, esculturas, desenhos com tesoura. São muitos os modos de expressão experimentados pelo artista a nos convidar ao encontro com suas cores e forças. E aqui me encanta a sua atitude, ao “pintar paredes”, rompendo formatos, forçando as formas na criação de form-atos.


Matisse experimentou as sensações vigorosas de sair da moldura, do modelo, e assim rachar as coisas, extra-va(z)ar as texturas e desfrutar de linhas de fuga criadoras de um sem-número de possíveis. O que é possível num encontro com Matisse não cabe numa parede. E sem um possível não há encontro, você dá com a cara na parede sem cor, nada além, nada aquém.


Texto também publicado no blog Espaço Fluxo e que pode ser acessado através do link.
Imagem: Blue Nude II - H. Matisse

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Crepúsculo dos Ídolos, não o dos vampiros



Crepúsculo? Sim, já li “Crepúsculo dos ídolos” e não me senti nem um pouco vampirizado.



Aliás, com relação a Nietzsche, confesso que fico muito alegre quando vejo em um ônibus, metrô, praça, alguém lendo um de seus livros. Não me importo muito, nestes casos, com a tradução (sei que há melhores, piores e criminosas). Já vi acadêmicos se engalfinharem defendendo traduções (editoras, autores, escolas, etc.)... Sei também que muito foi feito no sentido de arrebentar com a multiplicidade de sentidos presentes na obra deste filósofo, inclusive, isso tudo começou na própria casa do filósofo, graças aos “gostos” e filiações da irmã de Nietzsche, quando esta se empenhou a publicar os livros do irmão, reza a lenda, com algumas intervençõezinhas aqui e acolá. Mas, não sei não.... acho que ao ler-pensar-sentir com Nietzsche é possível transmutar esses entraves, saindo da esfera dos falsos problemas, adentrando as vielas repletas da potência do desassossego. Lembro-me de Deleuze dizendo em tom provocativo em uma de suas entrevistas que todo camponês deveria caminhar por aí com um livro de Spinoza no bolso da jaqueta, acho que o mesmo poderia ser dito a respeito de Nietzsche. Deleuze depois diz que a obra de Spinoza é de grande complexidade, não poderíamos dizer o mesmo acerca dos escritos de Nietzsche? Aliás, foi Nietzsche quem me apresentou a Deleuze, já disse isso aqui em algum comentário p/ trás (e sei que algumas pessoas interpretam isso ao pé da letra. O mesmo ocorre quando digo “Noite passada estive com Nietzsche”, rs.). Eu avançava nos estudos em Nietzsche quando me deparei com o livro Nietzsche de Deleuze. Foi Deleuze também que certa vez usou em um de seus textos a expressão “Meu Nietzsche”, de que gosto muito, não remetendo ao sentido de propriedade, mas sim aludindo ao limite do que pode uma leitura singular de Nietzsche e seus agenciamentos.


Também considero a escola francesa dos anos de estudos Nietzscheanos de 1960 a mais interessante, Foucault, Deleuze, Klossowski... e acrescento o esforço dos surrealistas e outros artistas, dentre os quais destaco Matisse, que ajudaram a tirar Nietzsche do calabouço em que tudo que vinha da Alemanha fora jogado após a II guerra mundial.


Para fechar, certa vez em uma sala de aula, preparando terreno para uma conversa sobre existencialismo, ao perguntar aos alunos quem ali já teria se aventurado na leitura de algum texto de Nietzsche eis que ao fundo um rapaz levanta a mão e diz “Estou acabando a leitura do livro Quando Nietzsche chorou e gostando muito”. Eu poderia me atirar ao chão, me desesperar, arrancar os cabelos... pasmem, ninguém na sala se manifestou contra o rapaz, tampouco eu. Vai saber, aquele texto poderia funcionar como um intercessor e abrir portas para um mergulho na obra do bigodudo do martelo e seus escritos de fato, por que não? Sei de pessoas que começaram a se encantar com a filosofia depois de lerem “O Mundo de Sofia” de Gaarder. Nada mal.





Da série: Diálogos pela blogosfera: mais um texto que escrevo em resposta a outro post do meu amigo Jason Manuel Carreiro em Não há pensamento raro

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Spinoza et le désir

“Le désir qui naît de la joie est plus fort, toutes choses égales d'ailleurs, que le désir qui naît de la tristesse.” (Spinoza, Éthique IV, prop. 18)