Em seu texto "Escritores, intelectuais e professores" publicado na coletânea "O Rumor da Língua", Roland Barthes dá ênfase à fala como afecção principal no ofício do professor. Ele menciona que o professor está condenado por meio de sua fala, tal “como um ciclista ou um filme a andar, a prosseguir, se não quiser cair ou encravar-se". A fala, cuja velocidade de enunciação deve ser mantida, tal como a velocidade das pedaladas de um ciclista, tal como a seqüência de imagens em movimento de um filme. Dar consistência a uma fala, tal como Eisenstein nos dizia acerca da dificuldade em manter a coerência e a consistência ao longo da gravação e posteriormente da edição de um filme me faz recordar Antonioni quando este dizia que a verdadeira trilha sonora de um filme são os silêncios entre as cenas. No caso da fala não há como editá-la em tempo real, há? Barthes nos diz que a edição na fala, no instante mesmo em que falamos, se dá por acréscimo, pelo uso de expressões corretivas do tipo: “quero dizer”; “ou melhor” que são acrescidas em meio à fala, já que não podemos apagar o que foi dito. Meu maior receio no tocante às palestras e aulas consiste no apagão, em ficar literalmente sem palavras, especialmente me preocupo com as palavras iniciais, as primeiras pedaladas, as primeiras cenas de um filme-falado, tenho medo de devir-ator de cinema-mudo. Quisera eu ter a potência de ação de um Buster Keaton, de um Charles Chaplin, de um Edward Mãos de Tesoura, e a força de expressão de um cinema-mudo. Mas o ensinar-aprender tornou-se há muito um palco para a verborragia. Falamos demais, em demasia, sobre tudo e sobre todos. Tal como uma aranha estamos condenados a nos lançarmos por meio da teia que tecemos. Não é a aranha que lança a teia, mas sim a aranha que se lança por meio da teia. A aranha conecta sua teia a uma extremidade sólida (parede, galho de árvore, etc.), tal como o professor se gruda aos conceitos, e se lança conectada a sua teia aproveitando o peso de seu corpo que é levado pela corrente de ar até esbarrar n’outro objeto sólido. Unindo um ponto a outro a aranha volta ao ponto de partida e inicia novamente o movimento de lançar o corpo através da rede, inúmeras vezes, até compor sua tela de captura. Sobre isso Deleuze em L’Abecedaire Gilles Deleuze, falando sobre sua teoria dos signos nos diz que “uma aranha: tudo o que toca sua tela, ela reage a qualquer coisa, ela reage a signos. E eles produzem signos, por exemplo, os famosos signos...”. O professor e sua rede, sua teia e as moscas, alunos, conceitos, ruídos, como o contra-ponto a este emaranhado rizomático de linhas de toda sorte.
No tocante à necessidade de trabalhar com a modulação de velocidades em uma aula, como devir-ciclista ou devir-cineasta em meio ao estrato-professor? Não seria o mesmo que devir-aranha?
No tocante à necessidade de trabalhar com a modulação de velocidades em uma aula, como devir-ciclista ou devir-cineasta em meio ao estrato-professor? Não seria o mesmo que devir-aranha?
Um comentário:
O seu blog é muito bom, isto é, cria planos de imanência em mundos muito parecidos com os meus. serei um leitor assíduo e vou adicioná-lo ao meu.
Saudações filosóficas (posso dizer assim?)
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