Uma resposta minha a mais um pertinente post de Alex Primo
Gosto da frase do Valéry que o Deleuze cansou de citar "o mais profundo é a pele", e na pele do William Bonner e de outras tantas figuras públicas escorre um tipo de suor frio dado o brilho dos holofotes sinópticos a perseguir as celebridades e figuras conhecidas em meio à multidão. Ao pensar nesse exemplo, atrelado à noção de Sociedade de Controle por Deleuze, de fato me pergunto onde está o fora e o dentro, em que momentos se sai de um buraco (tal como a toca da toupeira) e se entra em outro, ou se já não estamos sendo modulados, (tal como a serpente pelos anéis ao redor de seu corpo), pelas dimensões que um corpo hoje ganha/perde. O que pode um corpo? - pergunta espinosista... e seu avatar? De que afectos é capaz? E quanto à sua potência de ação? Seria o twitter uma paixão alegre ou triste? ... e o real, e os habitantes deste deserto do qual nos fala Zizek, o próprio Zizek anda twittando, literalmente anda e twitta... seria o real Zizek ou um fake? Real ou fake estes afectam e são afectados e ganham/perdem seguidores.
Além e aquém à resposta acima que postei como comentário no blog Dossiê Alex Primo, andei twittando... e twittar tornou-se um verbo de uso corrente no cotidiano de muitos desde que a modalidade micro-blogging Twitter tornou-se célebre...
O mundo ganhou novos contornos a partir do advento dos 140 caracteres e da pergunta que por hora não quer mais calar : "O que você está fazendo?", cujas respostas frenéticas nos dão a impressão de que há muito sendo feito aqui e acolá, o que pode não estar de fato acontecendo, ao menos não na proporção que tanto se comenta. De todo modo o Twitter coloca em xeque a verborragia, ou ao menos a cadencia, forçando os faladores excessivos a se pronunciarem por etapas, numa espécie de gagueira, cuja estratégia de fuga pode ser a de disponibilizar um sem número de links aqui e acolá, esticando alguns dedos de prosa a mais. Nessas horas me pergunto se o Twitter realmente trabalha no limite dos 140 caracteres por postagem... parece que não, como quase tudo no ciberespaço, dimensão e duração, espaço e tempo, velocidade e lentidão, ganham novas configurações na discussão. Alguns se perguntam se o Twitter veio para ficar ou se será mais um dispositivo efêmero como tantos outros, que tal como uma febre de verão, surgiram, contaminaram e foram embora, substituídos por novas parafernálias. O fato é que este dispositivo de comunicação e os modos de expressão que este agencia tem atraído usuários de toda sorte e funcionado tal como um "analisador high tech", atualizando o sentido que o conceito de analisador oriundo da Análise Institucional nos apresenta, a desvelar estratos em nossa sociedade e suas instituições, cada dia mais integradas e ao mesmo tempo mais apocalípticas. Instituições twittando, celebridades twittando, ricos, pobres e agentes autônomos com arquiteturas informáticas twittando em loop, uma festa! Uma guerra! Só não podem twittar os artistas de Hollywood, foram proibidos desde que começaram a dizer o que estavam fazendo e a entregar de bandeja informações secretas acerca de produções fílmicas milionárias. Aliás, teriam sido eles mesmos a divulgar tais valiosas informações confidenciais, os deuses hollywoodianos, ou seus fakes? Ou seus assessores de imprensa, ou seus fãs? Alguns perfis de Twitter agora apresentam um selo comprobatório de autenticidade: "Este perfil é mesmo do fulano de tal..." - quem me garante? O discurso acerca das identidades volta à cena, seria mesmo o fulano, o beltrano, o cicrano ou alguém se fazendo passar por outrém, lançando enunciados aqui e acolá? Isso perde a importância na medida em que sendo ou não sendo temos ali um turbilhão de afecções e afectos sendo disparados a influenciar movimentos, decisões, escolhas, e legiões de seguidores. Identidades provisórias verdadeiras ou não movem blocos de 140 caracteres ou mais, enxurrada adiante. E pensar que o problema iria parar no avatar. Poderíamos pensar que o episódio das recentes eleições presidenciais de 2009 no Irã, que já foi comentado por um zilhão de blogueiros e micro-blogueiros, em que o Twitter, mais pela ineficiência das autoridades de segurança da informação iranianas do que por qualquer motivo, conseguiu burlar o controle que impedia a divulgação de informações acerca da insurgência da população nas ruas que eclodiu mediante a suspeita de fraude eleitoral no país e bateu recorde de acessos e posts em âmbito global? "As estruturas não caminham pelas ruas.", frase do maio de 68 francês. E os avatares? E pensar que... como pensar e expressar o pensar em 140 caracteres? Quantos encontros se bons ou ruins? E ao mesmo tempo o que se intensifica em meio a twittadas e seguidores? É visível o aumento na potência de ação?
Você pode me seguir através do Twitter em @RogerioFelipe ("Follow me, don't follow me...")
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