Como um não-filósofo, acredito que minhas colocações tenham o mesmo peso tal como se por uma criança fossem aqui apresentadas. Não confunda a criança com o infantil que costuma ser jogado sobre ela, soterrando-a, de modo a fazer com que caricaturalmente ela se pareça sempre com um ente inferior ao adulto. E não sou daqueles que dizem que há uma criança dentro de mim, pois isso não há. O que há dentro e envolto por uma pele porosa e altamente atravessável, se for realmente necessário estabelecer dentros e foras, são vísceras, líquidos e outras mazelas, mas não se tem notícia de nenhuma criança. Por outro lado, ao ler o seu texto agencio minhas idéias às de uma criança, pois as crianças não se interessam muito sobre a função das coisas. Elas não param mediante uma explicação do tipo: “isso serve para aquilo, eis sua função e logo, sua utilidade”, às crianças interessa mais e efetivamente como as coisas funcionam, quando funcionam, mesmo que avariadas, mesmo se inúteis. “Como funciona?” é uma pergunta diferente e muito mais efetiva do que “Qual a função?”. Mesmo porque muitas das funções de tudo e de todos passam longe de como tudo e todos funcionam de fato, ou quais as utilidades prescritas. Uma cadeira: responda a uma criança o que é e qual a função de uma cadeira, e ela logo usará o próprio corpo para extrair deste objeto modos de colocá-lo para funcionar considerados pouco ortodoxos. Nas escolas e outros espaços de formação se ensina bastante acerca das funções de tudo e de todos, mas raramente se trabalha as sensibilidades em nós para apreendermos como tudo e todos funcionam. Nosso ensino é no geral excessivamente teórico-abstrato, mezzo-platonizado, e, tal como Deleuze e Guattari nos fazem pensar através do livro “O que é a Filosofia?”, pelo fato dos professores serem no mais das vezes os porta-vozes da ciência, e à ciência compete definir e classificar funções, se ensina as funções de tudo e de todos. Mas e quando não funciona ou funciona de modo diferente? O que fazer? Mudar a função?
Oh-ouh! Quando os órgãos prestam um desserviço ao corpo, há meios de se escapar do juízo de Deus e seus organismos e criar para si um Corpo sem Órgãos, tal como nos sugere Artaud?
Mais um texto meu em resposta ao post de Jason Manuel Carreiro no blog Não Há Pensamento Raro
Nenhum comentário:
Postar um comentário