Em meio ao que por convenção, mais do que por convencimento, alguns costumam chamar pós-modernidade (outros, modernidade líquida, hipermodernidade, supermodernidade, contemporaneidade tardia, etc), de fato temos visto o lançamento de afirmações acerca do fim de um sem número de coisas. O fim da fotografia, do cinema, da literatura, da filosofia, das artes, da escola, do autor… fala-se muito sobre o fim, sempre no sentido de um final, um encerramento das atividades e produções, mas quase nunca se vê surgir na superfície um debate acerca das finalidades a serem atualizadas, dos objetivos a serem renovados, dos possíveis e da afirmação daquilo que se pode buscar (ainda), enfim, das saídas. O catastrofismo apocalíptico impera. Por outro lado, temos também alguns entusiastas que acreditam que as transformações recentes, embora vertiginosas, chegam para somar e são inofensivas e aprioristicamente SEMPRE boas e quase naturais.
A literatura há de sobreviver e se transmutar, a filosofia também. Não sei se são bens duráveis ad infinitum, mas seus processos criativos podem se transformar e se agenciar às máquinas dos tempos vindouros, de tal sorte que ao olharmos a imagem da literatura, a imagem da filosofia, não venhamos a reconhecê-las mais. Híbridas sem perder a fertilidade, dotadas de gadgets em meio às convergências de um pouco de quase tudo conectado a um monte de mais um punhado de coisas… Integrados? Em meio ao pensamento digital? Nanotecnológico? Nós? Em rede? Nós talvez de amarrações frouxas, porém, compondo linhas elastecidas.
Houve um tempo em que se falava que a literatura havia se tornado o ofício de jornalistas… e agora que em nosso país os jornalistas não carecem mais de diploma para o exercício de suas funções? Como vai ser? De todo modo, um diploma quase nunca fez falta a escritores e artistas… falo de um diploma a qualificar/condecorar um tipo de expert nesses ofícios.
Amigos meus do campo das artes também falam acerca de um endereçamento das artes a uns poucos privilegiados, interessados, sensíveis… embora eu concorde que as artes estejam para poucos, isso não lhes garante o ar, dito puro, da aristocracia. Não, não é superior.
Hoje nos exigem uma potência de ação capaz de dar inveja a Homero, Leonardo da Vinci… temos que ser multifacetados, multimídia, polivalentes, líberos, prolíficos, capazes de tudo em meio a regimes de tempo flexíveis e noções de espaço líquidas. Justamente em tempos nos quais, dado o volume de informações e sua velocidade de ampliação, não nos é possível dominar a multiplicidade de produções, nem mesmo de um campo de especialidade, o que dirá de mais de um, a um só golpe.
Temos um volume de escritores, não de literatura, que supera de maneira assustadora o número de leitores… eis um paradoxo… em nossos tempos há mais escritos sendo produzidos do que lidos. Quem escreve, não lê? Bom, ler, ao menos para mim envolve mais do que simplesmente reconhecer letras a partir da captura fisiológica que os olhos nos permitem.
As chamadas novas tecnologias trazem nuances renovadas aos problemas de nossos tempos, mas n’outros tempos, outras tecnologias também acrescentavam desafios desassossegadores.
Da série: Diálogos pela blogosfera: mais um texto que escrevo em resposta a outro post do meu amigo Jason Manuel Carreiro em Não há pensamento raro
Um comentário:
Obrigado pelo seu optimismo, da sua celebração irónica dessa plêiade de "FINS".
Confesso que às vezes sinto que quase todos nós somos sócios de uma funerária. Enterros tristes de muitos dos códigos que amávamos.
Mas tem toda a razão, um olhar histórico mostra-nos onde se enterraram uns outros nasceram.
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