quarta-feira, 30 de setembro de 2009

pergunte ao ornitorrinco

Um animal que é pura bricolagem do desassossego, imagem da aventura do pensar sem imagem, animal outro, o avesso da lógica, performance da evolução-involução, intervenção no mamífero em encontro com a ave pato ou esquizomamífero, devir raspas d'um n'outro, cartografia da incerteza animal, ou "a prova de que Deus tem senso de humor", conforme Woody Allen.

-Pergunte ao ornitorrinco.

não interprete, experimente.


ensinar-aprender em tempos como os nossos

… e a Sandy decidiu estudar psicologia. E não só ela, e também não só a psicologia entra em cena nesse debate, pois assistimos, ao mesmo tempo em que participamos de certo modo, do desfile cotidiano de uma multidão que se aglomera entre as carteiras dos espaços de formação de terceiro grau, pós-graduação, cursos seqüenciais, etc. Espaços estes que podem ser faculdades, universidades, colégios, e outras sortes de organização por aí… no Rio vi que o CCAA, que antes era uma organização que oferecia cursos de idiomas também oferece há poucos anos formação superior. Vocês já notaram como nossos outdoors andam forrados de propagandas de escolas, faculdades, universidades, etc? Já leram o que vem escrito aqui e acolá? Já perceberam a guerra da mensalidade mais em conta? Os outdoors antes propagavam eventos, shows, serviços… e agora? O sonho de toda escola/colégio é oferecer este tipo de formação continuada, dita permanente, tal como Deleuze nos apresentou como índice das Sociedades de Controle. Eis alguns dos efeitos da democratização do ensino dito superior. Enquanto isso, a educação dita de base (vou utilizar termos ultrapassados, pré-escola, 1º e 2º graus) é deixada um tanto de lado. Quando falamos de professores mal remunerados, estes existem em todos os cantos, em todos os níveis, mas especialmente nas escolas públicas de formação de base. Um professor se vê obrigado a sair de um espaço para ir a outro, um tipo de nomadismo pouco potente, já que os verdadeiros nômades, conforme Toynbee, D&G, são aqueles que não necessariamente se movem fisicamente. O professor tem que fazer malabarismo, saindo de uma escola e correndo para outra… atravessando a cidade para complementar a sua renda. Mas o que acho que está em jogo vai além da remuneração… falo do tempo disponibilizado para a preparação das aulas, para o desenvolvimento de pesquisas, para a capacitação, para a Vida… tempo de experiência! Ah, professores aulistas, oh-ouh! Não são muito diferentes de burocratas, ou melhor, não têm condições de trabalho muito diferentes destes últimos. Embora eu conheça um sem número de professores aulistas que resistem bravamente no front, sendo extremamente criativos no exercício desta apaixonante aventura de Vida que é tornar-se professor a cada dia, mesmo quando as condições são inapropriadas. Sou professor aulista, só para deixar bem clara esta afirmação. Três vivas a estes bravos guerreiros! Falo também de recursos tecnológicos defasados e enfadonhos (como ensinar-aprender em meio à geração twitter, msn, facebook?)… Voltando à formação dita superior, seus alunos quando concluem os cursos saem com seus diplomas em punho em busca de um lugar ao sol no mercado selvagem que nos “cercatravessa”. Sim, estamos no mercado, nós e todo mundo, pode apostar, inclusive os que não conseguem um lugar digamos “formal” no tal mercado, pois os de fora estão dentro, os desempregados estão dentro, pode apostar! Gosto da idéia de CMI (Capitalismo Mundial Integrado) de Guattari, que, especialmente nos idos de 1980, em meio ao cenário bipartido da guerra fria dizia que do outro lado da Cortina de Ferro residia um outro tipo de capitalismo, o que lhe permitiu cunhar o termo capitalístico. Alunos pouco interessados sempre existiram e provavelmente se perpetuarão. O mesmo pode ser dito dos professores, dos gestores em educação, dos políticos que debruçam seus olhos sobre esta temática… de todos nós. Apenas identificar culpados não costuma ser de grande valia na solução de problemas. Mas há aqueles entre nós cujos olhos brilham, aqui e acolá, que vivem intensamente as possibilidades de uma formação ao longo da Vida, como diria Lapassade. Uma formação imanente, e há a possibilidade de aulas que funcionam como verdadeiros acontecimentos em que o ensinar-aprender, processo avassalador, inquietante, movido por desassossegos, da criação de possibilidades também ocorre. Não sei muito bem quanto ao destino dos alunos-gênios, tampouco dos ditos maus alunos (como se mede isso? Por nota? Por QI?). Ainda com relação às inquietações acerca do destino, flerto com o estoicismo na hora sem sombras do pensar e tal como o exemplo que estes filósofos nos dão do guerreiro que ao dar um passo em meio à batalha é acertado pela flecha e assim escreve o seu destino, e permanece de pé diante de seu destino, erguendo-se numa espécie de Vida outra, me ponho de pé. Eis uma outra Vida, continuamos após a flecha.
Resposta publicada também em referência a um post do meu amigo Jason Manuel Carreiro no Blog NÃO HÁ PENSAMENTO RARO

terça-feira, 29 de setembro de 2009

acontecer


a um só golpe, o que acontece? O que não acontece? O que está para acontecer? Eis onde devemos mirar a nossa lupa, se for este o nosso instrumento, nossa luneta, se for esse outro, o pincel, a caneta, a faca... ou sabe-se lá que ferramenta ainda por ser inventada? Que conceitos ainda por serem produzidos. O que está em jogo não são os objetos e suas funções (mesmo as mágicas) mas sim como tudo funciona. Como funciona? Eis a pergunta crucial, a que não se cala. Sobre as funções e os órgãos Antonin Artaud já nos mostrou quais seus desusos no corpo. O Corpo sem órgãos, que noção mais intrigante. um corpo desprovido de um mapeamento apriorístico tal como um mero amontoado de funções... mas a potência de uma multiplicidade de funcionamentos com o corpo. E um corpo funciona, pode apostar, mesmo que avariado, embora ainda não saibamos bem o que pode um corpo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Os Intercessores e o fabular



“Os intercessores são os responsáveis por pegar as pessoas em flagrante delito de fabular”. (Deleuze)

Ora, ora, o fabular, mas o que diabos pode bem vir a ser isso? A guisa de definições, mesmo que pueris, transitórias e inacabadas, percevejo (i.e. ato de perceber e ver) em nós uma tendência a fabular, que pode vir a ser até mesmo contar uma história, desde que inventada e vivível, tal como na literatura prática que Deleuze nos apresenta em seu Crítica e Clínica, tanto melhor se vivida em suas intensidades e não transformada num drama de cunho pessoal. Fabular como invenção de um modo de existência em que afirmamos os possíveis em uma Vida na busca por saídas criativas frente ao que compõe nosso cotidiano.

Infelizmente, no mais das vezes, dispensamos a potência ativa do fabular fazendo-o de modo reativo, negativo, contra nós mesmos, contra a Vida. Sucumbimos assim tal como presas fáceis dos microfacismos vampirescos que nos atravessam e nos pomos no exercício de conspirar contra a Vida, de praguejá-la. A isso, de praguejar a Vida, costumo chamar de síndrome de Datena, vocês conhecem este ás da comunicação e seu telejornal quase que diário? O problema não é ele, nem está com ele ou em seu telejornal, mesmo porque este último funciona mais como um analisador que coloca em evidência a tendência a fabular de modo reativo que nos é tão comum. O problema há muito já saiu da tela do aparelho de TV e invadiu o nosso cotidiano, pois com os elementos presentes no modo de apresentar uma notícia, da maneira pseudo-jornalismo-verdade em que esta é ali e em outros telejornais do mesmo tipo tratada, nós fazemos miséria, sem nos apercebermos o quão miseráveis também nos tornamos. E a audiência confirma a tendência que aqui afirmamos sob o seguinte alerta: nossas fabulações prescindem de serem postas em análise... mais um desdobramento de nossas análises de implicações.

Fabular nos permite extrair da fragilidade uma potência em que desenhamos um ou vários destinos, tal como os estóicos concebem destino, em que criamos personagens conceituais e povoamos o deserto do real. Para atravessar este deserto do real contamos com a presença de intercessores, estes que podem ser dos mais variados tipos (e.g. animais, plantas, minerais, livros, idéias, etc.) e que se põem entre nós, chegando às vezes sem avisar, tal como o vento, se pondo a trabalhar conosco.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

just writingthinkingfeeling

What happens to our kids today? Oh, sorry, I said kids, but I wanted to say students, teachers, politicians, salespersons, mothers, fathers, thieves.... all kinds of our nature. Nature? Whatever is being said here, it doesn't really make any difference., just transitory categories, randomic taxonomy... bullshit... Oh, I said "said"? Wasn't it an experience of writing? welcome to the desert of the real... Desert? Real? What is going on? The words, even concepts... are you there? Is there anybody out there... still reading? Wanna work with me? Most people don't want to think... they want thoughts, already done... just perfect and absolut. They don't want to feel either, especially when feeling is a radical experience with the body. What the F***K is happening in this world? What if nothing happens, or if nothing is about to happen? Forget the IF... it is of no help at all.

domingo, 20 de setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Fala que eu te escuto.


Do coaxar de um sapo ao co-achar de um encontro...

A princesa beija o sapo que devém príncipe e daí as núpcias, que segundo D&G é quando se instaura o melhor momento de um tempo intenso.

Outro dia um amigo me disse que estava fazendo análise e eu prontamente lhe perguntei: "análise de quê?" Bem poderia ser análise financeira, econômica, de conjectura... poderiam ser tantas as análises. E ele me olhou estranho, como se eu já devesse saber apriori, dizendo em seguida se tratar de psicanálise, ora bolas! Ah! Agora entendo o porquê de certos colegas terem tanto medo de dizer análise e serem mal compreendidos. Análise não é sinônimo de psicanálise, não que eu saiba, mas talvez eu não saiba o bastante, mas à boca pequena parece que a coisa funciona assim:
fazer análise = psicanálise. Pura matemática, à boca pequena... é que o sapo, justamente pelo tamanho de sua boca, não foi convidado para a festa no céu.

Um sapo, para início de prosa, que animal mais interessante. Mezzo-terrestre, mezzo-aquático, por via das dúvidas, na intercessão de duas categorias, que tal anfíbio? E isso lhe caiu tão bem. Um bicho medido por seus saltos, bicho de brejo, metamorfose ambulante que habita a fugacidade de uma vitória-régia a cada salto. A necessidade de habitar as águas e terras, é aí que reside toda sua fragilidade, sendo também daí que ele extrai toda a sua potência. Para co-achar é preciso habitar ao menos dois mundos. Talvez fazer análise tenha mais a ver com esta força sonora emitida pelo sapo.