terça-feira, 27 de outubro de 2009

Twitter: uma paixão alegre ou triste?

Uma resposta minha a mais um pertinente post de Alex Primo
Gosto da frase do Valéry que o Deleuze cansou de citar "o mais profundo é a pele", e na pele do William Bonner e de outras tantas figuras públicas escorre um tipo de suor frio dado o brilho dos holofotes sinópticos a perseguir as celebridades e figuras conhecidas em meio à multidão. Ao pensar nesse exemplo, atrelado à noção de Sociedade de Controle por Deleuze, de fato me pergunto onde está o fora e o dentro, em que momentos se sai de um buraco (tal como a toca da toupeira) e se entra em outro, ou se já não estamos sendo modulados, (tal como a serpente pelos anéis ao redor de seu corpo), pelas dimensões que um corpo hoje ganha/perde. O que pode um corpo? - pergunta espinosista... e seu avatar? De que afectos é capaz? E quanto à sua potência de ação? Seria o twitter uma paixão alegre ou triste? ... e o real, e os habitantes deste deserto do qual nos fala Zizek, o próprio Zizek anda twittando, literalmente anda e twitta... seria o real Zizek ou um fake? Real ou fake estes afectam e são afectados e ganham/perdem seguidores.
Além e aquém à resposta acima que postei como comentário no blog Dossiê Alex Primo, andei twittando... e twittar tornou-se um verbo de uso corrente no cotidiano de muitos desde que a modalidade micro-blogging Twitter tornou-se célebre...
O mundo ganhou novos contornos a partir do advento dos 140 caracteres e da pergunta que por hora não quer mais calar : "O que você está fazendo?", cujas respostas frenéticas nos dão a impressão de que há muito sendo feito aqui e acolá, o que pode não estar de fato acontecendo, ao menos não na proporção que tanto se comenta. De todo modo o Twitter coloca em xeque a verborragia, ou ao menos a cadencia, forçando os faladores excessivos a se pronunciarem por etapas, numa espécie de gagueira, cuja estratégia de fuga pode ser a de disponibilizar um sem número de links aqui e acolá, esticando alguns dedos de prosa a mais. Nessas horas me pergunto se o Twitter realmente trabalha no limite dos 140 caracteres por postagem... parece que não, como quase tudo no ciberespaço, dimensão e duração, espaço e tempo, velocidade e lentidão, ganham novas configurações na discussão. Alguns se perguntam se o Twitter veio para ficar ou se será mais um dispositivo efêmero como tantos outros, que tal como uma febre de verão, surgiram, contaminaram e foram embora, substituídos por novas parafernálias. O fato é que este dispositivo de comunicação e os modos de expressão que este agencia tem atraído usuários de toda sorte e funcionado tal como um "analisador high tech", atualizando o sentido que o conceito de analisador oriundo da Análise Institucional nos apresenta, a desvelar estratos em nossa sociedade e suas instituições, cada dia mais integradas e ao mesmo tempo mais apocalípticas. Instituições twittando, celebridades twittando, ricos, pobres e agentes autônomos com arquiteturas informáticas twittando em loop, uma festa! Uma guerra! Só não podem twittar os artistas de Hollywood, foram proibidos desde que começaram a dizer o que estavam fazendo e a entregar de bandeja informações secretas acerca de produções fílmicas milionárias. Aliás, teriam sido eles mesmos a divulgar tais valiosas informações confidenciais, os deuses hollywoodianos, ou seus fakes? Ou seus assessores de imprensa, ou seus fãs? Alguns perfis de Twitter agora apresentam um selo comprobatório de autenticidade: "Este perfil é mesmo do fulano de tal..." - quem me garante? O discurso acerca das identidades volta à cena, seria mesmo o fulano, o beltrano, o cicrano ou alguém se fazendo passar por outrém, lançando enunciados aqui e acolá? Isso perde a importância na medida em que sendo ou não sendo temos ali um turbilhão de afecções e afectos sendo disparados a influenciar movimentos, decisões, escolhas, e legiões de seguidores. Identidades provisórias verdadeiras ou não movem blocos de 140 caracteres ou mais, enxurrada adiante. E pensar que o problema iria parar no avatar. Poderíamos pensar que o episódio das recentes eleições presidenciais de 2009 no Irã, que já foi comentado por um zilhão de blogueiros e micro-blogueiros, em que o Twitter, mais pela ineficiência das autoridades de segurança da informação iranianas do que por qualquer motivo, conseguiu burlar o controle que impedia a divulgação de informações acerca da insurgência da população nas ruas que eclodiu mediante a suspeita de fraude eleitoral no país e bateu recorde de acessos e posts em âmbito global? "As estruturas não caminham pelas ruas.", frase do maio de 68 francês. E os avatares? E pensar que... como pensar e expressar o pensar em 140 caracteres? Quantos encontros se bons ou ruins? E ao mesmo tempo o que se intensifica em meio a twittadas e seguidores? É visível o aumento na potência de ação?
Você pode me seguir através do Twitter em @RogerioFelipe ("Follow me, don't follow me...")

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

[2ª edição]... entre as afecções do carrapato e Spinoza


Ainda não sabemos do que um corpo é capaz, de que afectos é capaz. Há um belo exemplo extraído da etologia de Uexküll por Deleuze no seu trabalho com o polidor de lentes, Spinoza. O exemplo do carrapato. E a sugestão de começarmos com um animal de uma multiplicidade de afectos relativamente menor é apropriada. Um carrapato é capaz de ficar cristalizado, inerte, em uma espécie de estado de hibernação, dado como morto, um devir_mineral, por um longo tempo... semanas, e isso para um carrapato é quase uma eternidade. E assim ele fica até que um corpo_outro cruze o seu espaço, seu território, atravesse a fronteira em uma distância menor, que permita um encontro, daí, de um salto só, o carrapato se lança ao encontro com um corpo de outra espécie (melhor se for um corpo de sangue quente). A vida de um carrapato, que antes estava no registro de um tempo vazio, passa agora a funcionar de outra maneira. Um carrapato “sabe”, ou melhor, sente, que agora que “começou” a viver, de outra maneira, ele tem poucas horas de Vida, uma Vida intensiva. Ele come, caga e procria. Ao final de uns poucos dias ele está morto. Poderíamos separar e interpretar esta cena, Hegel nos ajudaria com sua dialética. Teríamos de um lado, se assim o quiséssemos, um parasita e um hospedeiro. Mas um carrapato não conhece Hegel, dispensa a sua dialética, nem quer a ele(a) ser apresentado, da mesma forma, aqui vale a pergunta, como numa dança, vale a pena, para um corpo, com Hegel dançar? Ou seria melhor buscar outros pares? Você dança(ria) com um corpo? Sim, o Bigode (Nietzsche) e tantos outros morrem, sem cessar, mas nós sabemos que no morrer não há morte, e os estóicos também sabiam disso (antes de tb morrerem). Existe uma potência no trapo, na fragilidade, na doença (que aqui não merece ser compreendida como o contrário de saúde, mas como um modo de saúde diferente. Tampouco saúde e/ou doença, aqui são estados, mas movimentos). E uma possibilidade de efetivar conexões, o que permite a entrada de ar na arte, mesmo quando a proposta nos lança a um m-ar de águas densas, em que após o mergulho voltamos à superfície com olhos_vermelhos_provocantes.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

... um passo além e aquém da esperança


"(...) vem, vamos embora que esperar não é saber. quem sabe faz a hora, não espera acontecer." - Geraldo Vandré

... um passo além e aquém da esperança, rumo à afirmação da vontade ou ao aumento na potência de ação.

É que me lembrei destes versos lendo o seu texto.

Oh memória heurística! Lembro-me, atualizando belas reminiscências neste instante, que meu encanto com as coisas da Vida começou atravessado pelo existencialismo de Sartre, Beauvoir, Camus e Binswanger, Jaspers... Na psicologia existe uma abordagem que é a existencial-humanista, nunca fui humanista, e nem reconheço tanta coerência nesta junção/síntese (uma coisa são duas coisas juntas, outra são duas coisas que se tornam uma... gosto de misturas desde que impuras, tal como Blanchot nos fala acerca da distância absoluta "entre", que não se desfaz, que não se anula... que nos é imprescindível.). Mas o existencialismo, tal como a filosofia nos apresenta este campo, desde as influências de um Kierkegaard e de um Nietzsche (que não são filósofos existencialistas) me atravessou com muita força, já faz alguns anos para trás, e ainda reverbera pelo meu corpo vibrátil. De lá para cá, quantas outras águas, fogos, fluxos, fluidos, excrementos, detritos de toda sorte já não marcaram presença por aqui.

Pois bem, isto sim tem a força de um mantra! Na hora sem sombras... o maior dos pesos, oh puxa! Este bigodudo e seu martelo. Você colocou bem a coisa e estes versos nietzscheanos são de uma força descomunal, o imperativo do desassossego, um convite ao posicionamento ativo-afirmativo frente à Vida.

Das lembranças trago ainda o David Foster Wallace, que você me apresentou e que n'outro dia, um querido amigo, ao telefone me perguntou se já o havia lido. Acho que senti algo que se pode agenciar a estes versos nietzscheanos nos escritos de D.F.W. atravessando o meu corpo. Crítica e Clínica!

Este fim de semana estive lendo mais uma vez em "Espinosa: filosofia prática" de Deleuze o texto "As cartas do mal" correspondência travada entre o polidor de lentes e o jovem Blyenbergh. O jovem Blyenbergh quase consegue tirar o príncipe dos filósofos do sério com indagações acerca do mal, que o polidor de lentes diferencia do mau usando dos argumentos acerca da imanência. Este texto é incrível e reforça o que o polidor de lentes já havia apresentado na Ética como definição para Razão. Razão como a arte de estabelecer bons encontros. Eis outro belíssimo mantra! A arte de estabelecer bons encontros aproxima o filósofo do martelo e o polidor de lentes, aliás, o próprio Nietzsche já se sentiu próximo ao polidor de lentes, tal como numa espécie de solidão a dois, após seu bom encontro com o texto espinosista. Os bons encontros aumentam a nossa potência de ação o que mediante a implacável força do eterno retorno pode nos trazer um peso outro. Peso-mosca, na linguagem dos boxeadores, aqueles que nunca baixam a guarda... ou seria peso vespa-orquídea?



Da série: Diálogos pela blogosfera: mais um texto meu em resposta ao post do meu amigo Jason Manuel Carreiro em Não há pensamento raro.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O Anti-Édipo, um livro-bomba


De maneira aparentemente despretensiosa costumo me referir ao livro escrito em meio aos efeitos do calor das barricadas, durante os acontecimentos de maio de 1968, na França por Deleuze e Guattari e publicado em 1972, O Anti-Édipo, primeiro tomo de Capitalismo e Esquizofrenia, como um livro-bomba. O mesmo talvez possa ser dito a respeito do livro O Psicanalismo de Robert Castell e de mais um punhado de livros por aí, alguns ainda por-vir. Aliás, o próprio Castell chegou a dizer que, em O Anti-Édipo, D&G conseguiram imanentizar Karl Marx e Sigmund Freud, especialmente pelo agenciamento entre desejo e produção. É evidente a crítica à psicanálise em O Anti-Édipo, ao Estruturalismo, ao paradigma da Representação, aos elogios exacerbados atribuídos à salvadora dialética, como também ao modo extremamente enfadonho sob o qual as idéias de Marx às vezes são empregadas. Há ali uma infinidade de conceitos a inspirarem mais e mais ações em toda parte: multiplicidade, corpo sem órgãos (com inspiração em Artaud), máquina desejante, o inconsciente tal como uma usina em produção, etc. Mas afinal o que é um livro-bomba e do que ele é capaz?

Os livros-bomba são capazes de fazer o chão tremer, de agitar nossas moléculas, de colocar em movimento as multidões que nos atravessam, de desestabilizar estruturas, de cavar buracos em meio a sistemas, de introduzir violentamente lógicas caógenas de mapeamento complexo, de nos apresentar inomináveis, de quebrar ritmos, de nos envolver em meio a blocos de sensação que giram tal como dervishes, de quebrar velocidades acelerando lentidões, de explodir conceitões ou idéias justas já dadas aprioristicamente, de denunciar engodos absolutos ou falseamentos naturalizados, de subverter e transmutar conceitos, de rachar as coisas, de motivar entrelaçamentos a-significantes, além de travessuras outras. Um livro-bomba é um puro acontecimento, como nos diriam os Estóicos.

E ao mesmo tempo é estranho o que costuma acontecer com livros-bomba, ocorre com eles uma espécie de desaparecimento, de dar inveja a Blanchot. O livro O Anti-Édipo teve uma edição brasileira, cuja capa lhes mostro na figura acima, e sabe-se lá porque motivo, não tivemos a sorte de uma nova edição em terras brasileiras deste livro que no momento encontra-se esgotado. Reza a lenda que a Editora 34 está preparando uma nova edição deste livro para ser lançada em breve no nosso país, mas isso eu ouvi de boca pequena, não posso lhes garantir a veracidade da informação.

Talvez O Anti-Édipo sofra do mesmo mal que O Capital de K. Marx, tornando-se mais um dentre os mais citados e menos lidos livros de que já tivemos notícia. E a poeira come solta pelas prateleiras das estantes, mundo afora!


Também de maneira despretensiosa uso o termo livro-mágico para me referir a outros tipos de livro. Considero o segundo tomo de Capitalismo e Esquizofrenia, Mil Platôs, também escrito por Deleuze e Guattari, assim como as duas aventuras de Alice, no país das maravilhas e do outro lado do espelho, de Lewis Caroll, o livro das ignorãnças de Manoel de Barros, dentre muitos outros como livros-mágicos. Alguns hão de preferir utilizar a expressão caixa-de ferramentas, eu prefiro apelar para a magia, a potência mezzo-xamanística, ou a tudo aquilo que (ainda) pode advir da maleta do Gato Félix.

Quanto ao livro-mágico quase nada sabemos acerca do que este é capaz. Mas pode apostar, há mágicas e invenção entre suas linhas, a nos inspirar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Exposição: Diverso Adverso

... daquilo que se pode esperar da arte em nossos tempos.
Honestamente não se pode esperar muito, como sempre, mesmo porque não é função da arte nos iludir com esperas, tampouco nos inflar com esperanças. Aliás, discutir a função da arte, ou mesmo suas funções não costuma nos levar muito adiante. Novamente sugiro neste caso que pensemos como a arte funciona e o que convoca a funcionar, e isso só faz sentido quando nos dispomos ao encontro com a arte em pleno funcionamento. Este encontro nos exige a disponibilidade de um corpo, naquilo que pode um corpo, corpo-vibrátil, como nos sugere Suely Rolnik, corpo com suas sensibilidades ativadas num modo pensar-sentir. Pois nos é necessário pensar e sentir com a arte e o que ela dispara, atravessa, replica, raspa, compõe, agencia, destrói, devora, regurgita, produz... tantas ações, um rol de possibilidades em meio a um "Blocos de sensações, um conjunto de perceptos e afectos", tal como no livro "O que é a Filosofia?" Deleuze e Guattari nos convidam a pensar e sentir a arte e suas facetas.





Convido-lhes a visitar esta exposição e no encontro com a arte desfrutarem das sensações nos limites do que pode um corpo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Trabalhando com os petardos de Spinoza

Raspas da preparação de uma aula que está para acontecer nas próximas noites, em que pretendemos trabalhar com conceitos de Spinoza, eis um pseudo-diagrama com alguns dos petardos desse polidor de lentes. Oh, puxa! Trabalhar com Spinoza, aquele mesmo que povoou a solidão a dois de Nietzsche. Aquele mesmo a quem Deleuze chamava o "Príncipe dos Filósofos". Não é fácil trabalhar com Spinoza, assim como também encaramos dificuldades com Nietzsche, com o próprio Deleuze. Mas, ao mesmo tempo, como estes e mais alguns outros camaradas, especialmente quando os encontramos em bando, conseguem nos fornecer incríveis substratos de inspiração para darmos conta das forças em tensão do cotidiano, no exercício da razão, definida por Spinoza como a arte de estabelecer bons encontros.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Instant Replay



"Falling is so much like learning
when we are awake.
Dreaming is so much like living
when we are sleeping.
Don’t talk too much about us
it’s such a waste of time.
Meet me at the scene of the crime."


_____________________________________________________________________________________
Yes, it happened years ago, I was a singer and also wrote a few songs.

A criança e a cadeira

Como um não-filósofo, acredito que minhas colocações tenham o mesmo peso tal como se por uma criança fossem aqui apresentadas. Não confunda a criança com o infantil que costuma ser jogado sobre ela, soterrando-a, de modo a fazer com que caricaturalmente ela se pareça sempre com um ente inferior ao adulto. E não sou daqueles que dizem que há uma criança dentro de mim, pois isso não há. O que há dentro e envolto por uma pele porosa e altamente atravessável, se for realmente necessário estabelecer dentros e foras, são vísceras, líquidos e outras mazelas, mas não se tem notícia de nenhuma criança. Por outro lado, ao ler o seu texto agencio minhas idéias às de uma criança, pois as crianças não se interessam muito sobre a função das coisas. Elas não param mediante uma explicação do tipo: “isso serve para aquilo, eis sua função e logo, sua utilidade”, às crianças interessa mais e efetivamente como as coisas funcionam, quando funcionam, mesmo que avariadas, mesmo se inúteis. “Como funciona?” é uma pergunta diferente e muito mais efetiva do que “Qual a função?”. Mesmo porque muitas das funções de tudo e de todos passam longe de como tudo e todos funcionam de fato, ou quais as utilidades prescritas. Uma cadeira: responda a uma criança o que é e qual a função de uma cadeira, e ela logo usará o próprio corpo para extrair deste objeto modos de colocá-lo para funcionar considerados pouco ortodoxos. Nas escolas e outros espaços de formação se ensina bastante acerca das funções de tudo e de todos, mas raramente se trabalha as sensibilidades em nós para apreendermos como tudo e todos funcionam. Nosso ensino é no geral excessivamente teórico-abstrato, mezzo-platonizado, e, tal como Deleuze e Guattari nos fazem pensar através do livro “O que é a Filosofia?”, pelo fato dos professores serem no mais das vezes os porta-vozes da ciência, e à ciência compete definir e classificar funções, se ensina as funções de tudo e de todos. Mas e quando não funciona ou funciona de modo diferente? O que fazer? Mudar a função?
Oh-ouh! Quando os órgãos prestam um desserviço ao corpo, há meios de se escapar do juízo de Deus e seus organismos e criar para si um Corpo sem Órgãos, tal como nos sugere Artaud?
Mais um texto meu em resposta ao post de Jason Manuel Carreiro no blog Não Há Pensamento Raro

green grass fields forever

sábado, 3 de outubro de 2009

às margens do pensar em devir

... por vezes pensar se dá por atravessamentos e atrevimentos. Entre corpos, nem dentro, tampouco só fora. Somos atravessados e atravessamos, nos atrevemos. Corpos podem ser de todo tipo, de toda natureza, matérias em decomposição-composição, moléculas em salto acrobático. Há ainda a insistência por se localizar no cérebro algum sinal do logradouro do pensamento. Não encontraram nada por lá (ainda). Vocês se lembram de Descartes e o episódio da glândula pineal? Anedotas a parte, não me importo mesmo acerca do que costuma ser denominado “o pensamento”, parecem tratá-lo muito mal, tal como se fosse algo estático, uma espécie de produto que pode ser embalado e vendido: “o pensamento de Kant”, “ o pensamento de Hegel”, e se não for distribuído através de uma editora de renome, divulgado por alguém com o devido pedigree não serve, não presta. Pensar para mim tem mais a ver com processo, em que riscos estão envolvidos, os mais diversos. É de um atrevimento imenso pensar nos dias de hoje, algo raro inclusive, que não ocorre simplesmente ao bel-prazer de uma contemplação, mas, mais por uma urgência que nos lança ao desafio descomunal, mergulho no desassossego, postura de inquietude e estranhamento, forças em tensão, à semelhança de um encontro com um tufão. Pensar, que seguindo as mais belas “fábulas” estóicas pode se dar mesmo quando pensamento não há. Não há pensamento já dado, aprioristicamente, quieto, parado, inofensivo. Pois se no beijar não há beijo, mas sim saliva, bocas, lábios, desejo, sapinho, bactérias, gengivas, dentes, mãos bobas... talvez o pensar se abstenha da necessidade de se parar mediante a cristalização de algo que sejamos capazes de denominar de maneira definitiva e absoluta “o pensamento”.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

un peut plus sur la pensée du rhizome




...animando o conceito de devir de Deleuze e Guattari

... um diagrama do conceito de devir em D&G, um punhado de categorias e suas relações. Pretexto para prosseguirmos hoje à noite numa animada conversação iniciada na última terça feira com um bando de psicólogos em formação em Belo Horizonte.