quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sobre muros...(Post nº 4) - episódio final da série.

It's easy to see, to see only white where colors should be. M.S.P.

Nossos tempos, quando as oposições se esfacelam e nos sentimos parte e efeito das transposições. Serra amigo do Lula, amigo do Collor, amigo do Sarney, e a bela idéia de aliança sendo utilizada em uma multiplicidade de sentidos nunca dantes experimentada (nunca mesmo?). Aliás, o que é uma oposição nos dias de hoje, senão uma posição junto às demais, nunca contra? Além disso, individual, coletivo... seria a hora de fabricarmos novos conceitos em substituição a estes termos?

Imagine as eleições via Twitter? Segundo um grande amigo, o filósofo Marcelo Fontes, Jacques Rancière defende a idéia de dissenso como elemento fundamental no processo democrático, mais do que o consenso. À pergunta se o mundo precisa de um outro Twitter, no sentido quantitativo e qualitativo, lanço a questão: Quem é o outro do Twitter?

N’outro dia estava a pensar sobre meu comportamento no Twitter, (aliás, em terra de perfis e robots, que exagero o meu em dizer “o meu comportamento no Twitter”), mas enfim, percebi e me inquietei com o fato de que nesta rede social de microblogs acompanho a tendência de seguir apenas aqueles que me interessam. Problematizando minha cadeia de interesses, que compõem meu universo referencial nesta rede, constatei que sigo apenas os perfis que reforçam meus gostos, minhas predileções, minhas posições... ou seja, apenas um lado da moeda, nada de oposições. Alguém pode estar pensando, eis você, vencendo o efeito “ou” das oposições (ou isso ou aquilo), efeito binário, 0 ou 1, mas não sei bem se a simples junção de semelhantes e similares caracterizaria um uso potencializante da conjunção “e”, tal como Deleuze e Guattari e a possibilidade do rizoma. Preocupei-me ao pensar nos riscos de me imbricar em meio a microfascismos, no sentido de retroalimentar posições. “Aquele fascimozinho ordinário” que nos atravessa, nos rodeia, nos tonteia, imperceptível no mais das vezes. Microfascismos nos habitam, estão dentro e fora, há em mim, nos outros em nós e em você também.

Seguidores? Seguir amigos e reforçar a doxa, a padronização das opiniões. Sigo amigos, que por sua vez, me perseguem, quando o que de fato pode produzir diferença seria conectar-se a intercessores e sua potência filiada ao desassossego do paradoxo.


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