terça-feira, 21 de junho de 2011

A introspecção, essa tagarela.


“Falou e disse”, eis uma expressão, de uso coloquial e freqüente, que pode ser interpretada como parte de uma comunicação bem sucedida. A fala como parte menor, mas não menos importante, de um processo de dimensões oceanográficas que é a comunicação. Oceano com mares pouco navegados, tempestades, calmarias, e muita água quase sempre impura (às vezes até inapropriada para o consumo). Mas existiria mesmo, na plenitude do termo, algo como uma comunicação bem sucedida? Entre usos e desusos, tropeços e acertos, ruídos, distorções e outras interferências, falamos. E como falamos! Aliás, falamos muito sobre “como” falamos e não sei bem se dizemos algo que possa satisfazer nossas angústias com relação à fala. “Eu falo”, índice de poder, já não bastasse a ênfase no “eu”, ainda temos o “falo”, para aqueles a quem “isso” tem algo a dizer. A fala, elemento de uma tentativa de comunicação, da criação de um possível, de um comum, que não se restringe à comunicação verbal e seu fluxo de palavras. Mas, palavras, gestos, olhares, respiração, soluços, entonações, entre um quase infinito rol de elementos. Do que falamos sem dizer, um pouco de não-dito de uma fala e um pouco do que não foi dito por também não ter sido falado. Balbuciou algo, entre goladas de saliva temperadas com hálito impuro, depois respirou e se calou. Calado nos dizia um tanto mais, de sua introspecção, essa tagarela.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Um ônibus para a tristeza.

Dei sinal, entrei, e de repente um movimento, a mesma linha daqui a acolá, partiu da alegria para a tristeza. Um ônibus para a tristeza, a escolha é sua, “para” sem acento pode ser uma preposição e pode ser um verbo. Uma liga ao outro, outro corta um fluxo, um movimento que é sempre daqui a acolá.

domingo, 3 de abril de 2011

Try walking in my shoes.


It’s in your shoes, babe, in every step that you give. I can tell you exactly where you been. Nowadays, our digital traces, these new model boots are doing the same. The nomad walks on the desert, after each step, no line, no trace, you can’t track them. A pair of shoes is like a concept, a philosophical concept. You better use your own shoes. The shoes that best fit with the kind of step you need to give. And you walk. Comfort is not exactly what a good pair of shoes should offer you. Some strong boots are not comfort but they resist to challenging temperatures, cracks on the floor, sand, water... giving you speed. Try walking in my shoes, try working with the concepts I offer you, the ones we can build together.

sábado, 12 de março de 2011

The day Bruce Lee met Fred Astaire


I'd like to know how to dance like Bruce Lee, and fight like Fred Astaire.

quinta-feira, 10 de março de 2011

disparate em disparada


O que foge, me intriga. O que faz fugir me convida. Linhas de disparate em disparada.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Nunca vi um albatroz de perto, nem mesmo de longe.


Nunca vi um albatroz de perto, nem mesmo de longe. No máximo vi imagens de albatrozes em algum documentário televisivo, pela internet afora ou em revistas. Logo, eu não seria capaz de escrever sobre albatrozes, não sou um expert no assunto. Posso no máximo escrever com(o) um albatroz quando voa, traçando uma espécie de “line of flight”, conforme Deleuze e Guattari, deixando-me guiar pelo animal de vôo alto e extrema dificuldade em aterrissar. Uma escrita alba-atroz, que decola com dificuldade, deslocando-se no ar com velocidades lentas e rápidas, às vezes mais rápidas do que o vento no qual desliza e se desloca, até a aterrissagem sem jeito, ou um outro nome para a queda.

Encanta-me em especial o Albatroz-errante. Ave dentre as que apresentam maior envergadura e grande poder de vôo. Possuem uma habilidade particular ao voar, a de conseguirem deslizar muito perto da água, sem tocar as ondas, numa espécie de surf voador sem prancha, mas com as sensações que as ondas transmitem ao corpo vibrátil da ave. Ave que voa tal como um planador, embora não seja apenas empurrada pelas correntes de ar, e assim atravessam grandes distâncias. Os albatrozes chegam a atingir velocidades bem mais rápidas do que o vento e possuem bastante autonomia de vôo.

Planar no caso dos albatrozes é encontrar uma saída para voar, pois se eles tentam bater as asas, acabam encontrando muita resistência do ar devido à grande envergadura e com isso perdem forças e facilmente se cansam, aumentando os riscos de uma queda fatal.

A decolagem de um albatroz constitui um espetáculo curioso, pois tal como um avião, eles precisam de uma ampla área de fuga, que funciona como uma pista de decolagem, de preferência localizada em um terreno inclinado e com maior incidência de ventos, para aumentar as velocidades. Eles ficam posicionados no topo de um declínio e de lá começam a correr, esticando bem as asas, lançando as patas, uma após a outra, em um ritmo que você pode dizer de antemão que se caracterizaria pela mais completa falta de ritmo. Como pode isso? Esse movimento charmoso, combinado com algumas batidas das asas, geralmente faz com que eles voem. Geralmente, pois alguns albatrozes chegam a planar a poucos centímetros do chão e a cair algumas vezes antes de estabelecerem um pleno vôo.

Para pousarem na água os albatrozes usam principalmente suas patas, que possuem membranas "entre os dedos", funcionando como pás a escavar a água. Eles tocam com suas patas na água amenizando os atritos de uma reterritorialização. Quando a aterrissagem se dá em terra, eles usam suas caudas e patas como freios, tal como os instrumentos de pouso de um avião. Cada volta a um território exige um funcionamento do corpo e de sua maquinaria em reterritorialização. Não são raras as vezes nas quais os albatrozes se aproximam do local de pouso rápido demais, apressadamente, um erro de cálculo que faz com que eles se tombem de modo assaz desajeitado, batendo com o peito, o bico e as demais partes do corpo no chão, levantando poeira, um tremendo desastre! Daí a pensarmos que o albatroz não sabe aterrissar num mundo de atrocidades, mas ele atinge o chão mesmo assim.