As núpcias, ou o que ainda há de suave num encontro antes da captura. Apresento-lhes uma imagem acima, que está longe de ser uma grande novidade para muitos de vocês que acompanham estes escritos. Trata-se de um encontro nada raro entre uma orquídea e uma vespa. Encontro proposto pelo monstro bicéfalo D&G (engraçado isso d'eu insistir em escrever bice_falo, rs.), em seus escritos, nos desafiando com a proposta de que arriscassemos um mergulho assaz vertiginoso na aventura de um pensar sem imagem. Seria isso realmente possível? Tal como o sorriso do gato para Alice? A imagem acima dispara um paradoxo imediato ao servir para nos auxiliar na tarefa de um pensar sem imagem. Uma imagem para pensar sem imagem? Sim, e isso parece bem difícil para nós que não conseguimos deixar de recorrer ao uso imoderado de metáforas, (ou à crença de que tudo que é heterogêneo, especialmente em uma proposição, ou tratar-se-ia de uma metáfora, ou de um disparate), à utilização da interpretação como o método par excelence e da dialética quase como o paradigma imperativo em qualquer processo de pensamento. Oh, pensar, acontecimento por vezes raro num mundo de zumbis e vampiros, esses mortos-vivos que nos cercam, nos atravessam/habitam, dentre os quais somos obrigados a nos incluir também. pois já fomos mordidos e já tivemos nosso sangue sugado. Pensar sem imagem então!!! Isso que se torna cada vez mais raro, pensar, ocorre sem cessar, a todo momento. Ocorre no mais das vezes nas costas do do próprio pensador. Oh, puxa! E ocorre de pensarmos sem imagem também, apesar de que suportamos esta vertigem por pouquíssimo tempo e lá estamos nós lançando mão de uma imagem para representar um movimento. As linhas de fuga nos inquietam, nos atormentam, denunciam encontros entre heterogêneos, as núpcias... e mediante esta intolerável sensação, lá estamos nós, os primeiros a produzir mais linhas, desta vez um pouco duras, a cristalizar o movimento. Eis um vai-e-vem dos mais frenéticos! Tal como a orquídea e a vespa, a desterritorialização e subsequente reterritorialização de um devir-orquídea da vespa e de um devir-vespa da orquídea. a todo instante o que devém?
sábado, 28 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
"Io sono un fortunato" - tal como Fellini
_____________________________________________"But how many corners do I have to turn?
How many times do I have to learn?All the love I have is in my mind?
Well, I'm a lucky man
With fire in my hands
I hope you understand
I'm a lucky man"
(lucky man - verve)
Sentir-se um afortunado, por que não? Por que a culpa, ou tantas desculpas. Afinal, se numa Vida em sua imanência, há destes instantes em que isso pode ser dito, porque é assim, de certo modo sentido, qual a razão de tamanho pudor, uma certa vergonha... por que? Por que? Certa vez um bonachão Federico Fellini disse numa entrevista a um repórter americano, que começou em inglês e lá pelas tantas se italianizou: "Io sono un fortunato" - frase esta que me persegue, de tempos em tempos, talvez por habitar minha memória afectiva trazendo à baila a força afirmativa de um Nietzsche "amigo meu", um tal bigodudo, que nos ensina a vibrarmos sob o amparo do desassossego. Sentir-se um afortunado, ou tanto melhor, tornar-se. Pelas esquinas, encruzilhadas, tipo de espaço-tempo imperativo de travessias e de travessuras, tal como na supracitada canção do Verve, ou simplesmente "I'm a lucky man".
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
monstros bicéfalos
Por vezes repito as mesmas perguntas: O que acontece? O que não acontece? O que está para acontecer? Eis três perguntas que contemplam todo um rol de entrada em intervenção, da produção de demandas, passando pela contínua (quase infinita) análise das implicações, à utilização de dispositivos, etc. E quando se entra em intervenção muito acontece, não acontece e está para acontecer. É quase que somente disso que se trata. Em meio à dança "louca" disparada pelos analisadores, impera a lógica dos acontecimentos. Refiro-me aqui às intervenções socioanalíticas e me amparo no vai-e-vem intensamente inspirador presente nos registros deixados por Lourau & Lapassade. Ah, quanta saudade desses dois, que tal como o monstro bicéfalo Deleuze & Guattari, que também deixaram saudade, ainda em muito nos assombram. Estranha potência das duplas, ou seria dos duplos? E nem é preciso mencionar que cada um desses cada-dois que mencionei são às vezes apenas o singelo efeito de um punhado de bandos de todas as bandas. E há ainda umas tantas duplas-duplos mais por aí de estranha força, o Gordo e o Magro, Bouvard e Pécuchet, Tom e Jerry, Dr. Jekill e Mr. Hyde, etc. São muitos os monstros bicéfalos por aí, com quais desses estamos às voltas? Certamente com os que acontecem, não acontecem, estão para acontecer.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Cérémonie d’Adieu
... hoje me foi necessário ir despedir de uma guerreira. Na mais derradeira hora desta tarde, pude perceber que até a Terra se empalideceu, rendendo-lhe uma singela homenagem. Ela nos deixou na noite passada... deixou as mais belas lembranças também. De um estoicismo inabalável, cujo exemplo, ou melhor, seus modos de existir, de afecção e de afecto ainda nos renderão os mais belos efeitos.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
carroça de guerra
"Quando eu digo uma carroça, uma carroça passa pela minha boca." (Crisipo)
... e é extremamente necessário fazer passarem as carroças, mesmo as que estão com as rodas empenadas. Até aquelas que há muito não têm rodas. As que mal se arrastam e também as atoladas. Uma carroça de guerra, tipo estranho-estóico de máquina de guerra, veículo de um nomadismo absoluto, ou melhor, meio de transporte preferido pelos nômades, cujas velocidades no deserto, na estepe, na montanha ou no asfalto não podem mais ser medidas senão pelo efeito de seus paradoxos. "Siga as nuves! Siga as nuvens! encontre água." Eis o mapa do deserto, ou melhor, a sua cartografia... que não é feita jamais de rastros e sim de restos.
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