sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O Anti-Édipo, um livro-bomba


De maneira aparentemente despretensiosa costumo me referir ao livro escrito em meio aos efeitos do calor das barricadas, durante os acontecimentos de maio de 1968, na França por Deleuze e Guattari e publicado em 1972, O Anti-Édipo, primeiro tomo de Capitalismo e Esquizofrenia, como um livro-bomba. O mesmo talvez possa ser dito a respeito do livro O Psicanalismo de Robert Castell e de mais um punhado de livros por aí, alguns ainda por-vir. Aliás, o próprio Castell chegou a dizer que, em O Anti-Édipo, D&G conseguiram imanentizar Karl Marx e Sigmund Freud, especialmente pelo agenciamento entre desejo e produção. É evidente a crítica à psicanálise em O Anti-Édipo, ao Estruturalismo, ao paradigma da Representação, aos elogios exacerbados atribuídos à salvadora dialética, como também ao modo extremamente enfadonho sob o qual as idéias de Marx às vezes são empregadas. Há ali uma infinidade de conceitos a inspirarem mais e mais ações em toda parte: multiplicidade, corpo sem órgãos (com inspiração em Artaud), máquina desejante, o inconsciente tal como uma usina em produção, etc. Mas afinal o que é um livro-bomba e do que ele é capaz?

Os livros-bomba são capazes de fazer o chão tremer, de agitar nossas moléculas, de colocar em movimento as multidões que nos atravessam, de desestabilizar estruturas, de cavar buracos em meio a sistemas, de introduzir violentamente lógicas caógenas de mapeamento complexo, de nos apresentar inomináveis, de quebrar ritmos, de nos envolver em meio a blocos de sensação que giram tal como dervishes, de quebrar velocidades acelerando lentidões, de explodir conceitões ou idéias justas já dadas aprioristicamente, de denunciar engodos absolutos ou falseamentos naturalizados, de subverter e transmutar conceitos, de rachar as coisas, de motivar entrelaçamentos a-significantes, além de travessuras outras. Um livro-bomba é um puro acontecimento, como nos diriam os Estóicos.

E ao mesmo tempo é estranho o que costuma acontecer com livros-bomba, ocorre com eles uma espécie de desaparecimento, de dar inveja a Blanchot. O livro O Anti-Édipo teve uma edição brasileira, cuja capa lhes mostro na figura acima, e sabe-se lá porque motivo, não tivemos a sorte de uma nova edição em terras brasileiras deste livro que no momento encontra-se esgotado. Reza a lenda que a Editora 34 está preparando uma nova edição deste livro para ser lançada em breve no nosso país, mas isso eu ouvi de boca pequena, não posso lhes garantir a veracidade da informação.

Talvez O Anti-Édipo sofra do mesmo mal que O Capital de K. Marx, tornando-se mais um dentre os mais citados e menos lidos livros de que já tivemos notícia. E a poeira come solta pelas prateleiras das estantes, mundo afora!


Também de maneira despretensiosa uso o termo livro-mágico para me referir a outros tipos de livro. Considero o segundo tomo de Capitalismo e Esquizofrenia, Mil Platôs, também escrito por Deleuze e Guattari, assim como as duas aventuras de Alice, no país das maravilhas e do outro lado do espelho, de Lewis Caroll, o livro das ignorãnças de Manoel de Barros, dentre muitos outros como livros-mágicos. Alguns hão de preferir utilizar a expressão caixa-de ferramentas, eu prefiro apelar para a magia, a potência mezzo-xamanística, ou a tudo aquilo que (ainda) pode advir da maleta do Gato Félix.

Quanto ao livro-mágico quase nada sabemos acerca do que este é capaz. Mas pode apostar, há mágicas e invenção entre suas linhas, a nos inspirar.

3 comentários:

Luiz Carlos Garrocho disse...

Rogério,

Incrível isso, um livro como o Anti-Édipo, ao qual nós não podemos ter acesso na nossa língua!

Realmente, um livro-bomba. Até agora, só recebi fragmentos desse estilhaço.

Esperemos, então, pela edição da Editora 34.

Abraços

rfelipe disse...

Olá Garrocho,

Você foi direto ao ponto, o não acesso a este livro em nossa língua.

As decisões editoriais no mercado de livros não são as mais fáceis de se entender, vai saber...

Um livro-bomba e seus percalços!

Abraços e obrigado pela visita e comentário.

Rogério

Marcos Vilela disse...

vale dizer que é mais do que boca pequena?

afinal nas edições mais recentes de mil platôs existe um "em breve", logo abaixo o anti-édipo. esperemos.
é uma tradução difícil, afinal deve-se manter a potência da escritura de Deleuze. Não deixar o devir inerte.
Além disso, a coleção TRANS é dirigida por Éric Alliez, aluno e difusor de Deleuze.